Racismo deve ser combatido com campanhas e recursos, afirma ONG

27/09/2006 - 0h44

Marcela Rebelo
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O governo precisa desenvolver uma forte campanha no Brasilcontra o racismo. A avaliação é da diretora da Organização Não-Governamental(ONG) Geledés, Sônia Nascimento. “Hoje temos uma campanha muito grande contra aviolência à mulher. Temos que ter uma campanha também contra a violênciaracial”, defende.Sônia diz que a criação da Secretaria Especial de Políticasde Promoção da Igualdade Racial foi um passo importante para a defesa dosdireitos dos negros. Mas ela afirma que a secretaria não teve o impacto e a visibilidadeque deveria ter. “Para que isso ocorra é necessário que o novo governo destine maisverbas para o órgão.”A diretora do Gelédes acredita que o governo não tem“interesse político” em desenvolver uma ação nessa área porque muitas pessoasentendem que o racismo no Brasil é algo cordial por não ser violento eexplícito como ocorre, por exemplo, nos Estados Unidos.“Cordial para quem? Você não ser aceito em uma empresa porcausa da cor da sua pele é cordial? Isso é de um cinismo muito grande. Porque oracismo é velado e sabemos disso”, avalia.Sônia destaca que os negros são discriminados em situaçõesrotineiras. “Se o negro chega a um lugar, o manobrista não vai buscar o carro.Se o negro vai a alguns restaurantes, tem vontade de sair porque fica todomundo olhando.”A diretora do Geledés conta que, como advogada, já sofreuvários casos de discriminação. “Chego à sala de audiência e o juiz pede para eusentar em outro lugar achando que eu sou o cliente. O juiz tem dificuldades emver uma mulher negra como advogada. É tão natural os negros serem o réu, osnegros serem a parte. O que não é natural é ser o advogado.”Ela diz que o mesmo ocorre com algumas juízas negras. “Oadvogado entra na sala e fala: cadê o juiz? Ela está sentada na sala e a pessoaainda assim pergunta.”O Geledés oferece assistência a vítimas de discriminaçãoracial. Sônia soube de um caso em que um negro deixou de ser contratado, porcausa da cor, em uma empresa que procura carros importados não pagos devidamente.“O advogado da empresa disse que não iria admiti-lo porqueos carros que a empresa buscava estavam em bairros de classe A e o empregadoprecisava andar pelas ruas, conversar com os jornaleiros. Se fosse um homemnegro, as pessoas acabariam chamando a polícia, porque iriam achar que eraladrão.”A diretora do Geledés acredita que, com uma grande campanhasensibilizando o brasileiro dos efeitos do racismo, as pessoas passariam alutar pelas cotas, pelas ações afirmativas e compreender a luta dos negros pelaigualdade.Sônia diz que a criação da Secretaria Especial de Políticasde Promoção da Igualdade Racial foi um passo importante para a defesa dosdireitos dos negros. Mas ela afirma que a secretaria não teve o impacto e avisibilidade que deveria ter. “Para que isso ocorra é necessário que o governodestine mais verbas para o órgão.”De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra deDomicílios (PNAD) de 2004, 48% da população é negra (42,1% de pardos e 5,9% depretos). Da população negra, aproximadamente a metade é composta por mulheres,50,1%. As mulheres negras são mais de 43 milhões de pessoas, o que representa24,1% do total da população brasileira.