Em Rondônia, eleitores acompanham combate à "mamata" nas campanhas

01/09/2006 - 11h24

Spensy Pimentel
Enviado especial
Porto Velho (Rondônia) - São dez homens conversando ao lado da mesa de sinuca. Os taxistas matam o tempo no restaurante improvisado que chamam "ponto de apoio", às margens da BR-364, em Rondônia. No balcão da cozinha, uma senhora prepara os “PFs” do dia: arroz, feijão, macarrão, alface e tomate, com carne cozida ou tambaqui frito.A equipe da Radiobrás está a caminho de um comício em um bairro da periferia de Porto Velho, capital que nos últimos meses assistiu a uma série de escândalos políticos envolvendo denúncias de corrupção.No restaurante, a discussão sobre política surge naturalmente no grupo de taxistas. "Tô lhe dizendo, o pessoal está batendo em cima. Acabou a mamata", diz um deles, com expressão de desconfiança, ao falar sobre as ações da Justiça Eleitoral para fiscalizar a campanha dos candidatos na região.Ele levanta a voz para acrescentar, com ênfase: "Se você tiver no banco R$ 3 mil e tentar tirar, eles informam a polícia no ato, ligam dali mesmo". "Nem precisa ligar, é só ali, pela internet", completa um outro, fazendo gesto de digitação com os dedos."Nesse período de eleição, ninguém consegue sacar quantia grande. Eles estão de olho. O outro lá tem R$ 30 mil no banco, quem disse que consegue tirar?", continua o primeiro, a que um outro completa: "Rapaz, está cheio de polícia por aí. Peguei um esses dias que me falou que a equipe deles dá uns trezentos cabras. E ninguém conhece não, é gente de fora do estado".As constantes ações da Polícia Federal em Rondônia atiçam a imaginação: "Peguei umas mulheres ali num hotel no dia que aconteceu o negócio lá. Elas disseram que estavam aqui fazia três meses e não sabiam para que era. Esse pessoal trabalha bem".A última ação de impacto da PF no estado foi a Operação Dominó, deflagrada no início de agosto. Com o objetivo de desarticular fraudes cometidas na Assembléia Legislativa de Rondônia, foram presos, entre outros acusados, os chefes de dois dos três poderes constituídos: o presidente da assembléia, Carlão de Oliveira, e o presidente do Tribunal de Justiça do estado, Sebastião Teixeira Chaves. As investigações que culminaram na Operação Dominó tiveram início em setembro do ano passado, poucos meses depois que o atual governador, Ivo Cassol (PPS), divulgou fitas de vídeo que mostravam deputados pedindo propina em troca de sustentação no Legislativo. A pedido do Ministério Público do estado, a PF entrou no caso (os crimes não seriam de sua alçada, normalmente) e, até agora, já instalou 14 inquéritos. Entre outras descobertas, uma folha de pagamentos paralela na Assembléia, que envolvia 23 dos 24 deputados. Segundo a PF, eles registravam funcionários "fantasmas" em seus gabinetes, e, usando  intermediários, como assessores e parentes, ficavam com o dinheiro dos salários, que chegavam a até R$ 13 mil. À medida que as investigações avançam, novas fraudes vão sendo descobertas, segundo o delegado responsável pelo caso, Marcelo Rezende. O montante desviado, inicialmente calculado em R$ 70 milhões, pode crescer, segundo ele.

A última fraude foi revelada pelo quinto inquérito concluído esta semana: um serviço de ligações gratuitas, 0800, pago pela Assembléia, nem chegou a ser criado pela empresa que ganhou a licitação. Junto com outros dois contratos que ela havia ganho, foram pelo ralo R$ 670 mil. A empresa vencedora das licitações fraudadas havia sido criada especialmente para aplicar o golpe.A sensação de que se aproxima o fim da impunidade parece quase se tornar um consenso entre os taxistas à beira da BR-364, sentados sobre as mesas, braços cruzados, olhar ressabiado com a presença do repórter. A incerteza, o desencanto falam mais alto: "Ah, não sei, não. Dá vontade é de não votar em mais ninguém".Mais tarde, no comício, pergunto à moça que trabalha como cabo eleitoral para um dos candidatos locais: e esse pessoal se reelege? "O pior de tudo é que reelege. Sabe por quê? Porque o povo esquece. E é mais sem-vergonha quem vota neles ainda."