Associação de engenheiros critica decisão da Petrobras exportar petróleo

20/04/2006 - 19h27

Nielmar de Oliveira
Repórter da Agência Brasil

Rio – A meta da auto-suficiência na produção de petróleo que a Petrobras e o governo federal estão anunciando agora é o fruto de um trabalho de quase 56 anos, segundo o presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet), Haroldo Pereira. Ele considera que a auto-suficiência não é o esforço decorrente do governo anterior e tão pouco deste ou de governos passados, mas sim do esforço de todos os brasileiros, que se mobilizaram em torno da campanha o "Petróleo é Nosso" e, particularmente, de um trabalho de todos os petroleiros e que vem desde 1953.

Embora louve os feitos da Petrobras, Haroldo Pereira é um crítico dos rumos que a Petrobras está tomando. É em particular crítico da decisão da empresa de exportar o excedente da produção por entender que, no futuro, este petróleo irá nos fazer muita falta.

Em sua avaliação, esta decisão de levar o país a fechar o ano com exportador líquido de petróleo e derivados - como apregoa a atual diretoria da Petrobras - é uma posição mais do que equivocada: é uma decisão de traição aos interesses nacionais e à nação brasileira.

"O petróleo já está chegando à casa dos US$ 70 o barril no mercado internacional e não se espante se daqui a pouco tempo ele venha a atingir a casa dos US$ 80 a US$ 100", diz. "Nós vamos exportá-lo a um preço ainda menor, pois nosso petróleo é de pior qualidade, e dentro de pouco tempo, vamos ter que importá-lo a um preço bem maior. Esta é, portanto, uma mais do que equivocada: é uma traição aos interesses nacionais e à nação brasileira".

As considerações do presidente da Aepet partem do pressuposto de que, mesmo no ritmo de desenvolvimento atual, o Brasil tem um estoque para mais uns 17 anos. "Isto com o Produto Interno Bruto (PIB) crescendo na ordem de 2% a 2,5% ao ano. Com o desenvolvimento que o país precisa: de 7% ao ano sucessivamente, o petróleo existente não dá para 12 anos. Acabaremos como a Argentina, que hoje importa petróleo e gás por ter privatizado toda a sua indústria para empresas estrangeiras, notadamente as anglo-saxônicas (inglesas e norte-americanas) e hoje não tem petróleo para o mercado interno e é obrigada a importá-lo a US$ 60 a US$ 70".

Critico em particular dos rumos que o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso deu à atividade petrolífera no país - ao promulgar a lei que flexibilizou o petróleo e alterar com o apoio do Congresso Nacional a Lei do Petróleo reduzindo o percentual de ações da Petrobras que deveriam ficar em poder da União – Heitor Pereira questiona hoje a frase que levou à criação da Petrobras: O Petróleo é Nosso. "O petróleo era nosso até 1997. O governo FHC decidiu vender as ações da Petrobras na Bolsa de Nova Iorque e para isto teve que alterar a Lei do Petróleo, mudando o artigo que dizia que as ações da Petrobras que excedessem o percentual em poder da Petrobras (51% de todo o capital social – ações ordinárias e preferenciais) só poderiam pertencer a brasileiros ou empresas brasileiras. A partir das alterações surgiram a Shell do Brasil, Texaco do Brasil, etc...", afirma.