Índios pensam em desmontar acampamento às margens de estrada no Mato Grosso do Sul

31/03/2006 - 11h17

Janaina Rocha
Enviada especial

Rio Quente (GO) - Os índios Guarani-Kaiowá pretendem desmontar nos próximos dias o acampamento criado há quase quatro meses às margens da BR 384, no Mato Grosso do Sul. O grupo de quase 700 índios não decidiu, no entanto, a data exata para a mobilização, que deve resultar no retorno à terra Nhanderu Marangatu e em um possível confronto com fazendeiros.

Ailton Lopes, uma das lideranças indígenas dos Guarani-Kaiowá, conta que a comunidade sofre com as condições precárias do acampamento, próximo à estrada que liga os municípios de Antônio João e Bela Vista. Quatro crianças morreram no local e um adulto teria cometido suicídio. Algumas famílias já deixaram o acampamento.

"Quinta passada, depois de ficar dias agoniado com essa situação, andei o dia todo na estrada e tive a idéia de mandar uma carta para o ministro do Supremo Tribunal Federal (Ellen Gracie) dizendo que vamos voltar para as nossas terras", contou Lopes, que participa da 4ª Conferência Nacional de Saúde Indígena.

"Não agüentamos mais essa humilhação esperando o ministro avaliar nosso caso, como ele disse. A Justiça tem que ser comprometida com o índio. A gente foi comprometida com ela, esperando a situação se resolver da forma certa. A gente esperou a Justiça dizendo que resolveria a situação da nossa terra em duas semanas."

Os Guarani-Kaiowá foram despejados por ordem judicial da terra Nhanderu Marangatu em dezembro, duas semanas depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) cancelar a homologação da área. A assessoria de imprensa do STF informou que ainda não há previsão para julgamento do processo.

O processo de criação da terra indígena de Nhanderu Marangatu levou cerca de dez anos. Antes de iniciar a ocupação dos 9,3 mil hectares de Nhanderu, no início de abril do ano passado, os índios moravam provisoriamente em 26 hectares cedidos por fazendeiros. De acordo com a Fundação Nacional do Índio (Funai), o que resolveria o problema dos Guarani-Kaiowá seria o retorno dos índios às suas terras.

"Temos direito à terra, que já foram nossas. Muitos parentes estavam no Paraguai e voltaram para nosso território quando a gente conquistou. É importante a referência de onde você nasce, na sua terra. E agora ficamos sem ela de novo", lamenta o líder indígena Ailton Lopes.

"Tive uma dó do meu pai. O velho tem 88 anos e me falou: 'quero comer, trabalhar na terra e dormir. Não quero só comer e dormir. Também sinto falta de trabalhar nas terras, estou na luta há 20 anos. Não agüento mais andar."