Haiti faz primeira eleição geral após queda de ex-presidente

06/02/2006 - 11h39

Aloisio Milani
Enviado especial

Porto Príncipe (Haiti) – O país mais pobre das Américas, cuja história tem sido marcada por sucessivas interferências externas, vai eleger amanhã (7) o nome do novo presidente da República, dos senadores e deputados. Estas são as primeiras eleições convocadas após a queda do ex-presidente Jean Bertrand Aristide, em fevereiro de 2004. O pleito estava entre as exigências do Conselho de Segurança da ONU para autorizar o envio e permanência de uma força militar no Haiti.

A substituição do governo provisório, instalado desde 2004, dará o retorno constitucional ao país, além de oferecer mais uma possibilidade de destravar os investimentos básicos para a população como escolas, hospitais, moradia e o funcionamento básicos das próprias instituições do Estado. Nações como Estados Unidos, França, Canadá e Japão se comprometeram desde 2004 a doar recursos para a reconstrução do Haiti, mas grande parte deles não foi enviado.

As eleições são organizadas pelo Conselho Eleitoral Provisório, em conjunto com as Nações Unidas e com a Organização dos Estados Americanos (OEA). Trinta e quatro candidatos estão na disputa pela presidência. No entanto, somente três nomes, segundo as pesquisas eleitorais, têm possibilidade disputar o segundo turno caso. Um deles, o ex-presidente René Preval (1995-2001) tem o maior índice de intenções de voto. Em seguida, os candidatos Charles Backer e Leslie Manigat.

As ruas da capital Porto Príncipe estão cheias de faixas e cartazes com propaganda política. As palavras "Votez Presidant" foram espalhadas pelos muros das principais avenidas e cruzamentos, nas proximidades do aeroporto, nos bairros ricos como Petion Ville ou nos mais pobres como Bel Air e Citè Soleil, atualmente a maior favela do Caribe.

A principal dificuldade dos organizadores foi o recadastramento da população. Não havia lista de eleitores confiável e a maior parte da população não tinha sequer carteira de identidade. Cerca de 3,5 milhões haitianos solicitaram o documento para votar. Após a produção das carteiras no México, cerca de 90% das pessoas retornou para buscar os títulos e checar o seu local de votação.

"Tanto o governo haitiano quanto o Conselho Eleitoral Provisório perceberam que a população queria votar. Havia inicialmente muito ceticismo se as pessoas iriam buscar as suas carteiras eleitorais. E, hoje, temos 3,15 milhões de um universo de 3,5 milhões. E as pessoas continuam a buscar a sua carteira de identidade", explica o embaixador do Brasil no Haiti, Paulo Cordeiro.

Depois de ser adiado por três vezes oficialmente, o primeiro turno das eleições está marcado para esta terça-feira (7). Caso não haja vitória simples, ou seja, 50% dos votos válidos mais um, haverá segundo turno no dia 19 de março. O centro de divulgação dos resultados das apurações foi montado no Hotel Montana, em Petion Ville, onde estão hospedadas as principais autoridades e o comando da Minustah.