Conheça a história de três famílias de fumicultores de Santa Cruz do Sul

01/02/2006 - 16h35

Shirley Prestes
Enviada especial

Santa Cruz do Sul (RS) – O agricultor Dalvo Inácio Schmidt, de 53 anos, planta fumo, junto com a família, em apenas dois hectares de sua propriedade que tem 53 hectares de área, 30 deles aproveitáveis para lavoura. "O fumo ainda é o melhor negócio para o pequeno produtor familiar", diz. As demais plantações são para subsistência. Os Schmidt - a esposa Claudete e as filhas Carla e Raquel - trabalham na lavoura, e não pretendem descartar o fumo "enquanto não houver uma alternativa viável".

Eles aguardam com expectativa o programa do governo federal que vai apoiar a diversificação na região. "A gente já ouviu falar na mamona, no girassol e em outras culturas, mas de concreto, o que temos agora é a garantia dada pelo ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, de que o programa será feito com os produtores e lideranças da região". Nesta semana, o governo federal apresentou o Programa de Apoio à Diversificação Produtiva das Áreas Cultivadas com Fumo no município gaúcho.

A família Schmidt acha que precisaria de seis a dez anos para mudar de cultura por causa de toda a infra-estrutura já adquirida para "a cultura que é secular para nós". Dalvo disse que recebeu a cultura de seu pai e do avô, que também herdaram de seus antecedentes. "A família veio da Alemanha para o Brasil em 1890, e começou a plantar fumo com as sementes que trouxeram. Hoje eu sou avô também e continuo plantando fumo", explica.

Na família Pappim da Silva - onde o pai, Aldoir da Silva, a mãe, Alvorina Pappim da Silva, os filhos Marcos e Claudio Vanderlei com a esposa Mônica Inês, plantam quatro hectares de fumo - a diversificação não é novidade. Segundo o agricultor Marcos Pappim, de 28 anos, a experiência da família com cultura alternativa começou em 1998, com a plantação de pêssego e, mais tarde, com piscicultura.

"O fumo é uma cultura que trás malefícios aos produtores, prejudicando a nossa saúde. Para produzi-lo trabalhamos direto no sol. A gente sabe os riscos que corre na lavoura", afirma Marcos. "Só que não podemos aceitar acabar de vez com a cultura porque ela é o carro-chefe da nossa família, a que está dando mais renda atualmente", explica. O agricultor conta que trabalha na lavoura desde os 10 anos de idade, "no tempo em que criança podia trabalhar juntando folha, carregando fumo pra fora da lavoura". Considerados novos fumicultores, a família da Silva planta tabaco há 30 anos.

Já a agricultora Maria Erocilda Dick Fish, de 43 anos, é fumicultora há 15 anos. Proprietária, junto com o marido Ivalini Fish, de 53 anos, de 107 mil pés de fumo, ela já partiu para a diversificação, plantando milho numa área de 7 hectares. Mesmo assim, para acabar com a cultura do tabaco "só se houver muita ajuda dos governos estadual e federal". Ela é a favor de mudar para outras culturas e acredita que o programa de apoio à diversificação vai contribuir para a diminuição, gradativa, da fumicultura. "O que não pode é parar, simplesmente com a produção do tabaco, porque eu não sei o que seria das pequenas propriedades familiares da região", afirma Maria, que também trabalha na lavoura com a filha Joseane e o genro, Valderi Ramos, ambos de 23 anos.