Policial civil mineiro afirma à CPI dos Correios que era um "carregador" de dinheiro

04/08/2005 - 18h25

Marcos Chagas
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O policial civil de Minas Gerais David Rodrigues Alves disse hoje à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios que foi contratado pelo presidente da agência de publicidade SMP&B, Cristiano Paz, para ser um "carregador" do dinheiro sacado das agências do Banco Rural em Belo Horizonte. Segundo o policial mineiro, cada operação realizada rendia a ele entre R$ 50 e R$ 100. David Rodrigues Alves contou também que, nos últimos dois anos, entregava o dinheiro sacado para três pessoas: Cristiano Paz, a gerente financeira da SMP&B Simone Vasconcelos e a funcionária Geiza Dias, que também trabalha na área de finanças da empresa.

Rodrigues Alves afirmou aos parlamentares da CPMI que as operações de saques no Banco Rural eram sempre "pré-estabelecidas". "Eu pegava o dinheiro no porão do banco com o tesoureiro", disse. O policial civil acrescentou que, numa única "viagem", chegou a transportar R$ 150 mil. Ele disse que não conferia os valores "nota por nota", mas apenas os maços que o entregavam. Na maior parte das vezes, ele conta que as notas de R$ 100 eram dispostas em caixas de sapatos.

Num mesmo dia, ele disse ter transportado R$250 mil para a SMP&B – valor obtido por meio de dois saques. O policial afirmou que desconhecia que o empresário Marcos Valério de Souza fosse sócio da SMP&B. "Nunca tive contato com Marcos Valério", acrescentou.
O empresário é apontado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) como o operador do pagamento de mesada a deputados.

David Rodrigues Alves negou conhecer a sócia do publicitário Duda Mendonça, Zilmar Fernandes da Silveira, indicada por Marcos Valério como a destinatária dos recursos sacados pelo policial civil. "Esse é um esquema que envolve peixe grande. Não fui inocente, recebi a minha gratificação. Mas eles não iriam comentar detalhes comigo", afirmou Rodrigues Alves.

O policial relatou ter conhecido Cristiano Paz em 2003 por meio do doleiro Haroldo Bicalho. "O Cristiano disse que estava fazendo operações bancárias que precisavam de dinheiro vivo e perguntou se eu estava disposto a fazer o serviço", disse. Rodrigues Alves contou ainda que, quando ia sacar os recursos no Banco Rural, apresentava a carteira de policial civil. Ele disse que entrava armado na agência do banco.