Índios só devem liberar reféns após governo rever homologação da Raposa Serra do Sol

23/04/2005 - 12h11

Thaís Brianezi
Repórter da Agência Brasil

Boa Vista (RR) - Os indíos que mantêm quatro agentes da Polícia Federal como reféns na comunidade do Flechal, no município de Uiramutã, em Roraima, só devem liberar os policiais quando o governo federal tomar alguma medida que sinalize alterações na homologação de forma contínua da terra indígena Raposa Serra do Sol.

"Nós não fomos ouvidos pelo presidente Lula nem pelo Márcio Thomaz Bastos (ministro da Justiça). Eles têm que fazer algo para mudar isso. Os indígenas do Flechal não querem viver isolados", argumentou o tuxaua macuxi Abel Barbosa, vice-presidente da Sodiur (Sociedade de Defesa dos Indígenas Unidos do Norte de Roraima).

Abel seguiu há pouco, às 9h30, para Uiramutã, de avião, acompanhado de Gonçalo Teixeira dos Santos, administrador regional da Fundação Nacional do Índio (Funai) e de quatro agentes da Polícia Federal.

"O Abel já foi tuxaua lá no Flechal, ele pode atuar como mediador do conflito. Nossa intenção é abrir o diálogo. A reivindicação da comunidade, de certa forma, é legítima. O modo de atuação, porém, não", defendeu Gonçalo.

A Sodiur, segundo Abel, tem 49 associados. O tuxaua Lauro Barbosa, que - de acordo com informações oficiais da Secretaria Estadual do Índio - teria ordenado o cárcere dos quatro policiais, pertence à organização. Abel explicou que os indígenas ligados à Sodiur estão revoltados com a homologação em forma contínua da Raposa Serra do Sol porque ela significaria um isolamento das comunidades, que hoje desenvolvem projetos com não-índios e têm ações do governo municipal e estadual.

O delegado Osmar Tavares, da Polícia Federal, informou que oito policiais federais partiram para Uiramutã, com destino à comunidade do Flechal (a viagem até lá, de carro, dura cerca de três horas). Ele garantiu que o objetivo da missão é estabelecer um diálogo com os indígenas e que, por enquanto, afasta a possibilidade de conflito armado.