Limpeza de obras de Aleijadinho marca chegada da tecnologia a processos de restauração

03/04/2005 - 9h52

Brasília, 3/4/2005 (Agência Brasil - ABr) - A limpeza das esculturas da série Os Doze Profetas, de Aleijadinho, marca a entrada da tecnologia nos processos de restauração brasileiros. "Essa é a primeira limpeza feita através de um procedimento técnico elaborado por um consenso entre vários órgãos de preservação brasileiros e estrangeiros", informa o coordenador do Programa Monumenta, Luiz Fernando de Almeida. O trabalho, acrescenta, era feito "de foma artesanal e sem tecnologia, pegava a escovinha e limpava".

A participação de pesquisadores de ciência e tecnologia é uma antiga reivindicação da comunidade acadêmica, que reclama de não ser chamada para participar das restaurações feitas com recursos públicos. De acordo com o coordenador do curso de Conservação e Restauração de Bens Móveis da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Luiz Carlos Souza, "não há esse cuidado, as universidades não têm participado, eles contratam restauradores sem o braço científico".

O professor, que também coordena a Rede Nacional de Ciência e Tecnologia para a conservação de Bens Culturais, diz que o "ciclo de restaurações está cada vez maior", já que a durabilidade dos trabalhos tem sido menor. Para o coordenador do Monumenta, o trabalho com Os Doze Profetas significa a visão do ministério da Cultura e do Programa de fazer os restauros pensando na sustentabilidade dessas ações. "A gente está substituindo a forma amadora por uma linguagem científica, dando condições para que esse restauro tenha uma capacidade no tempo maior e uma incapacidade de afetar negativamente as peças", ressalta.

O professor explica que um restaurador de objetos, como esculturas ou pinturas, em geral não tem uma dimensão do contexto em que a obra está, como o clima ou a iluminação. Já um arquiteto não conhece as necessidades do objeto. "Um museu não pode ser só estético, tem que ser criado com preocupações como clima, ventilação e iluminação" para uma melhor conservação das obras.

Para Luiz Carlos Souza, não basta contratar um restaurador para fazer um trabalho: é necessária a participação de especialistas. E o Brasil possui tecnologia suficiente para restaurar melhor suas obras. "Estamos clamando por participar do processo, temos ciência e tecnologia suficientes para dar suporte e durabilidade", diz.

Na restauração dos Profetas será utilizado o biocida "asseptim", resultado de pesquisas realizadas com laboratórios alemães, por dez técnicos brasileiros envolvendo biólogos, geólogos, químicos, engenheiros e restauradores da Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (Cetec).