Exportadores brasileiros não têm de esperar compradores e sim buscá-los, diz Rodrigues

11/07/2003 - 14h48

São Paulo, 11/7/2003 (Agência Brasil - ABr) - O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, está empenhado "até o pescoço" para resolver questões políticas que vão implicar em ganho de competitividade dos produtos brasileiros no mercado mundial . Esta afirmação foi feita pelo ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Roberto Rodrigues, logo após participar de encontro sobre o Área de Livre Comércio das Américas (Alca), no Hotel Intercontinental. Entre os pontos elencados por ele estão a condução do processo das reformas tributária e previdenciária, bem como a disposição de se aumentar os investimentos na área de infra-estrutura.

Em sua avaliação, o presidente Lula demonstrou grande lucidez ao defender, durante a sua passagem por Lisboa, que o empresariado brasileiro deva ampliar a sua participação em negociações que possam elevar as exportações do País.

Rodrigues argumentou que falta um forte investimento em publicidade sobre o que o Brasil tem a oferecer e também maior agressividade na área comercial. Lembrou o caso do café brasileiro que domina apenas 1% do mercado mundial, apesar da produção ser superior a 30%. Já a Alemanha, que não planta um pé sequer, detém 20% da comercialização. De acordo com o conceito de Rodrigues, existe uma cultura tradicional no País de esperar pela iniciativa dos compradores em vir conhecer os produtos em vez de ir lá fora despertar o interesse.

Definindo-se menos cético quanto às possibilidades de um avanço nas negociações multilaterais a partir da reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC), em setembro próximo, na cidade de Cancún, no México, ele afirmou que esse encontro deverá acabar com o certo imobilismo em torno de questões polêmicas como as tarifas e subsídios agrícolas.

Seria o ponto de partida para o andamento das negociações em torno da Alca, segundo sinalizou o ministro. Ele compara as discussões a um jogo de xadrez, em que estão sendo mexidos apenas os peões, as primeiras peças trocadas entre os adversários e que no caso das negociações são vistas pelo ministro como uma abertura positiva rumo ao consenso. "Talvez depois de Cancun o bispo entre em ação", referindo-se em metáfora sobre a segunda peça em que os jogadores começam a definir melhor seus ataques para sair em vantagem .

Para Rodrigues embora a Política Agrícola Comum (PAC) não tenha introduzido mudanças muito práticas na comercialização, ela significa um avanço político que, no longo prazo, poderá reduzir a produção agrícola européia. Ele considera que este foi um lance no tabuleiro do jogo da OMC, exigindo dos demais parceiros novos lances. E uma vez reduzido o pessimismo sobre a OMC, "reduz o pessimismo em relação a Alca".

Falando aos executivos e empresários presentes ao encontro promovido pelas empresas de consultoria Tendências e Perspectiva, o ministro defendeu que a proposta da Alca deverá estar direcionada sobre três trilhos: negociações bilaterais, no contexto da política de 4 + 1, entre os membros do Mercosul e os Estados Unidos; multilaterais e em âmbito da OMC.

O ministro alertou que espera dos signitários a disposição em "reduzir o abismo social e econômico", fenômeno crescente no mundo em forma de exclusão social e concentração da riqueza. Caso contrário, apontou ele, a democracia e paz estariam sob ameaça.

Nesse mesmo encontro, o secretário de assuntos internacionais do Ministério da Fazenda, Otaviano Canuto, defendeu que a chamada "Alca Ligth" tem 50% mais chances de vingar.