Médico alerta: bebês devem ser submetidos a teste de surdez antes de deixar a maternidade

24/11/2002 - 7h49

Brasília, 24/11/2002 (Agência Brasil - ABr) - A porta se fecha e o bebê não mexe os olhos. A mãe fala algo e o recém nascido nem mesmo vira a cabeça para procurá-la. Quando essas situações se repetem constantemente, os pais podem estar diante de uma criança com deficiência auditiva. É isso o que avisa o médico otorrinolaringologista do Hospital Universitário de Brasília (HUB), Heitor Ribeiro Dantas. "Nesses casos, quanto mais rapidamente o problema é diagnosticado, melhores são os resultados que o tratamento apresenta", afirma.

A surdez pode ser detectada logo após o nascimento, quando o bebê ainda nem saiu do hospital. O exame que apresenta o diagnóstico mais preciso é o teste da orelha, que verifica se a criança tem algum grau de deficiência, por meio de um aparelho de estimulação sonora. No entanto, ao contrário do teste do pezinho, o exame da orelha ainda não é rotina nos hospitais de Brasília. "Mas brevemente estaremos fazendo o teste no HUB", promete, embora nem sempre a deficiência se manifeste na maternidade. Isso ocorre porque a surdez também é adquirida através do uso de medicamentos que podem causar lesões no ouvido da criança, ou em conseqüência de doenças como sarampo, rubéola e meningite. "Mas não importa se a deficiência é congênita ou se foi obtida depois do nascimento. Nos dois casos, o tratamento imediato e o apoio da família são fundamentais", completa o médico.

O tratamento envolve sessões de fonoaudiologia, amparo psicológico e exercícios em casa para desenvolver a linguagem. Com o acompanhamento médico e familiar, a criança pode levar uma vida quase normal, garante o responsável por educação precoce no Centro de Educação de Audição e Linguagem Ludovico Pavoni (Ceal), Padre Gabriel. "A criança não deve ser tratada com piedade pelos pais. O papel deles é dar todo o apoio para que seu filho aprenda a superar os obstáculos que a surdez impõe", diz. O Ceal fica na Asa Norte, em Brasília, e trabalha hoje com 310 crianças com deficiência auditiva.

Segundo o padre, não são poucas as crianças surdas que se desenvolveram e tornaram-se adultos de sucesso. O caso famoso da pedagoga norte-americana Hellen Keller comprova as palavras de padre Gabriel. Ela ficou cega aos dois anos e, pouco tempo depois, também adquiriu a deficiência auditiva. Mas, com a ajuda de uma educadora, Hellen foi alfabetizada, obteve um diploma universitário e publicou vários livros. Mais do que isso, tornou-se um símbolo na luta contra a deficiência.