Brasília, 21/11/2002 (Agência Brasil - ABr) - O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva tem uma expectativa ambiciosa em relação as perspectivas que estão se abrindo para um aprofundamento das relações entre o Brasil e os Estados Unidos, a partir de janeiro de 2003, quando toma posse no cargo. Uma das metas é elevar dos atuais US$ 30 bilhões o volume do comércio bilateral para US$ 60 bilhões nos próximos quatro anos, e deste montante para US$ 100 bilhões até 2010.
A informação foi prestada pelo senador eleito e secretário de Relações Internacionais do PT, Aloysio Mercadante (SP), que participou hoje, na Granja do Torto, de reunião com o secretário de Estado assistente para a América Latina do governo dos Estados Unidos, Otto Reich, juntamente com o coordenador-geral da equipe de transição, Antonio Palocci, e do presidente nacional do partido, José Dirceu.
Durante o encontro, de cerca de três horas, o qual contou também com a presença da embaixadora dos Estados Unidos no Brasil, Donna Hrinak, foram tratados dois temas importantes envolvendo as relações comerciais e econômicas entre o Brasil e os EUA: o restabelecimento das linhas de crédito comerciais para o país e os problemas existentes hoje, que dificultam as exportações nacionais e que também prejudicam a consolidação do Mercado Comum do Sul (Mercosul).
Segundo Aloysio Mercadante, os americanos são os maiores importadores de produtos do mundo, comprando de outros países duas vezes mais do que a Europa e quatro vezes mais do que o Japão. Entretanto, como frisou, o volume do comércio com o Brasil é de US$ 30 bilhões, o que corresponde a apenas 1,8% do que os EUA compram do restante do mundo.
Por conta dessa desproporcionalidade, já que os EUA e o Brasil são as duas nações com maior potencial econômico do continente americano, conforme o secretário, as exportações americanas para o Brasil cresceram nos últimos quatro anos do governo de Fernando Henrique Cardoso 116%, enquanto que a contrapartida brasileira foi de ínfimos 5,6%.
"Isso desequilibrou o comércio bilateral. Nós precisamos restabelecer um comércio onde os dois países ganhem", afirmou Mercadante, emendando que o Brasil vai agir com rigor, a fim de reverter esse quadro: "Os americanos sempre jogaram duro e agora eles vão ter um governo que vai jogar tão duro quanto eles nas negociações internacionais, porque a relação comercial internacional se faz com reciprocidade. Quando um abre, o outro também abre", afirmou.
Um dos esforços do novo governo será no sentido de suspender as barreiras protecionistas às exportações, como ocorre com o suco de laranja, o aço e o álcool, com o objetivo de construir uma agenda positiva, buscando com empenho de aprofundar as relações comerciais para gerar mais emprego, mais divisas e desenvolvimento econômico.
E a contrapartida brasileira, alcançando esses objetivos, são de interesse dos EUA, na avaliação de Aloysio Mercadante, já que o governo norte-americano poderá se beneficiar do fato de o Brasil ser o maior produtor mundial de álcool, favorecendo o esforço americano de reduzir a poluição provocada pelos veículos automotores, substituindo o metanol pelo etanol (combustível derivado do álcool), entre outras oportunidades de negócios. Os novos motores, os chamados motores flexíveis, permitem a utilização de álcool ou gasolina, uma decisão que fica a critério do consumidor.
Outra frente de interesse dos norte-americanos refere-se a determinação do governo de Luiz Inácio Lula da Silva em combater a pirataria no país, principalmente de CD´s. Hoje, no Brasil, são vendidos 170 milhões de CD´s anualmente, sendo que, 100 milhões de discos, são piratas. "Isso é uma coisa que o nosso governo vai se empenhar para combater para organizar nossa indústria, baixar os preços dos CD´s, organizar melhor essa economia, para que se pague impostos e respeite os direitos autorais intelectuais", disse Mercadante.
"Nós temos que negociar com competência, com seriedade os nossos interesses, defender os interesses do país e do povo brasileiro, como eles fazem com o povo americano. É isso que o novo governo vai fazer", declarou o secretário de Relações Internacionais do PT, completando que o Brasil está fazendo um "esforço fantástico" para enfrentar os reflexos da crise financeira internacional, gerando, inclusive, um superávit em sua balança comercial neste ano de US$ 12 bilhões.
Na avaliação de Aloysio Mercadante, a reunião com o Otto Reich e a embaixadora na Granja do Torto foi produtiva. "Eles se mostraram muito receptivos. Disseram que as mensagens que o novo governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva está remetendo ao exterior são muito positivas, e que nós devemos continuar este diálogo".
Além dessa reunião em Brasília, Mercadante, responsável pela organização do encontro entre Lula e o presidente George Bush, no dia 10 de dezembro em Washington, conversará com outras autoridades norte-americanas. Amanhã, no Rio de Janeiro, ele terá audiências com o vice-chefe do Departamento Econômico do governo dos EUA e com o vice-diretor do Federal Reserve (FED), o Banco Central ameriano.