FHC: eleição de Lula é exemplo da mobilidade social

21/11/2002 - 17h10

Brasília, 21/11/2002 (Agência Brasil - ABr) - O presidente Fernando Henrique Cardoso considerou hoje a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para presidente como exemplo da mobilidade social registrada no Brasil nos últimos anos. Na avaliação do presidente, o fato de um ex-operário alcançar o posto máximo de representatividade do país configura uma prova de que a democracia brasileira está consolidada. "A nossa sociedade é muito curiosa porque ao mesmo tempo que ainda tem, em certos setores, resistências racistas e preconceituosas, tem uma mobilidade social muito forte. Tanto a prova é que meu sucessor foi operário e vai ser meu sucessor aqui, que é uma coisa importante do ponto de vista sociológico. E que o principal oponente dele também foi um exemplo de mobilidade ascendente", afirmou.

Neste sentido, o presidente lembrou que o processo de transição é outro exemplo da força da democracia brasileira - já que consiste numa política de aceitação de forças oponentes que vão trocar de lugar a partir de janeiro de 2003. "Tem que aceitar o outro. Eu sei que não me aceitaram muito em certa época, mas eu aceito porque acho que é importante ser democrata. Acho que é mais importante realmente manter uma atitude coerente de aceitação do outro", afirmou. O PT, partido do presidente eleito, fez oposição ao governo FHC durante seus oito anos de mandato. O presidente já pediu várias vezes ao seu partido - o PSDB - para não fazer o mesmo durante o governo Lula.

Fernando Henrique ressaltou que, mesmo numa democracia consolidada, a sociedade brasileira precisa reforçar os mecanismos institucionais que garantam sua permanência. "Não há democracia que se afiance só nos valores, ou só no movimento social, ou só no desejo, ou só na vontade. É preciso que haja organizações que mantenham as condições de democratização. Quando não existe a lei que assegure a igualdade por mais que um governo avance, depois pára, porque as condições não são as mesmas de um governo para outro", resumiu.

As declarações foram feitas durante cerimônia de comemoração da Semana de Consciência Negra, em Brasília. O presidente reconheceu que, apesar dos avanços registrados na diminuição do preconceito racial, ainda há racismo no Brasil. No entanto, ele ressaltou que as políticas de afirmação desenvolvidas em seu governo estão contribuindo para que o país diminua as barreiras culturais entre raças.

Entre os exemplos positivos está a concessão de bolsas a estudantes negros que pretendem ingressar no Instituto Rio Branco. Fernando Henrique lembrou que, quando ainda era chanceler, notou a fraca presença de negros no Itamaraty, o que o motivou a apoiar a iniciativa das bolsas de estudos. "Era muito pequeno o colorido do Itamaraty. Isso não fica bem, não fica bonito, não é o Brasil. O Brasil é colorido, não é monocromático", ressaltou.

Uma das bolsistas, Delma de Andrade, reconheceu as dificuldades em ingressar na carreira de diplomata. Estudante de escola pública e graduada em Turismo em uma universidade particular de Brasília, ela disse que não tinha renda suficiente para se preparar para o concurso do Instituto Rio Branco, e revelou que a bolsa irá ajuda-la a atingir sua meta profissional. "Não é uma prova fácil, mas não pretendo desistir. A bolsa é um estímulo bastante significativo, uma vez que tem alguém investindo no meu sonho", concluiu.

O secretário nacional de Direitos Humanos, Paulo Sérgio Pinheiro, revelou que o governo federal realiza de hoje até dia 26 deste mês um Censo Racial na Administração Pública Federal no qual os 550 mil funcionários irão responder a qual grupo étnico pertencem: brancos, pardos, negros, indígenas ou amarelos. Os servidores poderão optar por não se enquadrarem em nenhum grupo. O resultado do levantamento deve ser divulgado em 12 de dezembro, como forma de traçar um retrato racial do serviço público brasileiro. Gabriela Guerreiro e