FHC defende uso no mundo de pelo menos 10% de energia renovável

04/07/2002 - 15h39

São Paulo, 4 (Agência Brasil - ABr) - O presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu hoje, nesta capital, que pelo menos 10% da energia gerada em todo mundo tenha origem em fontes renováveis e espera o fechamento de uma proposta latino-americana neste sentido para ser levada à reunião sobre Desenvolvimento Sustentável, em Joanesburgo (África do Sul ), no segundo semestre deste ano.

Fernando Henrique disse que o presidente do México, Vicente Fox, demonstrou apoio à medida, no encontro que mantiveram, ontem, em Brasília, e que pretende abordar o assunto, durante a reunião com os países membros do Mercosul (Mercado Comum do Cone Sul), em Buenos Aires.

A informação foi transmitida em discurso proferido pelo presidente Fernando Henrique, na solenidade de inauguração de duas novas turbinas na Usina Termelétrica Nova Piratininga, instalada no bairro de Pedreira, zona sul desta capital.

O presidente lembrou que no Brasil a geração de energia já vem sendo predominantemente obtida por fontes renováveis, com a concentração de mais de 90% por meio dos recursos hídricos. Mas, advertiu que o país precisa buscar fontes alternativas para não ser surpreendido por eventualidades como a escassez de chuvas que obrigou o governo a lançar o programa de racionamento. "Não é prático estarmos sujeitos à falta de chuvas, é claro que dependemos do uso dos reservatórios, mas é prudente que tenhamos um seguro composto por uma complementação de nossa matriz energética", pontuou, citando exemplos de uma diversificação na matriz energética entre os quais o uso da Biomassa (obtida com o bagaço da cana) e a eólica. Por isto, destacou que a inauguração das novas turbinas desta termelétrica é um marco porque vai ser movida a gás. As duas turbinas compõem a primeira fase de um projeto orçado em US$ 300 milhões, ampliando, inicialmente, a oferta de energia em 200 MW. Em novembro, essa capacidade será duplicada e, em maio do ano que vem, quando as obras estarão concluídas, serão gerados 580 MW, o suficiente para abastecer 3,2 milhões de residências.

Fernando Henrique destacou o fato de tratar-se de um investimento sem poluição numa região de grande demanda por energia. Ele lembrou que o empreendimento é fruto de uma parceria de empresas majoritariamente estatais – a Petrobras participa com 60%, a Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae) com 20% e os restantes 20% foram investidos pela Fundação Petrobras de Seguridade Social (Petros). Nos país todo são "impressionantes os investimentos que vêm sendo feitos neste setor", frisou o presidente, observando que, nos últimos oito anos, construiu ou está construindo 24 hidrelétricas, entre elas a de Porto Primavera", que simboliza a ação excepcional do ex-governador Mário Covas, falecido no ano passado, e que acabou dando o nome daquela Usina de Sérgio Motta, que foi outro gigante da modernização do Brasil". "Só os Estados Unidos têm feito grandes investimentos como estes, talvez ainda o Canadá, e quem sabe a Rússia, a Índia e a China."

Em sua fala, esclareceu que "não precisamos mudar a matriz, apenas complementá-la", e acrescentou que muito lhe custou trazer o gás natural da Bolívia, tendo até ouvido que lá não tinha o combustível, pouco antes de firmar o contrato de compra. O investimento no setor tem uma visão não unilateral, explicou, mas da região, integrando os países vizinhos, de forma com que todos ganhem com isso. "Da mesma forma como quando lutamos contra os mais poderosos do mundo quando não dão espaços a nós, não podemos nós também não darmos espaços àqueles com os quais nos associamos".

Fernando Henrique anunciou que, no final deste mês, na segunda reunião dos presidentes da América do Sul em Guayaquil, no Equador, o Brasil proporá a fusão dos fundos de fomento para o esforço de recursos para financiar a integração da infra-estrutura deste continente. Ele observou que a Europa fez isto e hoje a integração energética na Europa é imensa. A Europa levou 50 anos para ser a União Européia e começou por intermédio dos acordos em torno do aço, depois acordos energéticos.

O presidente finalizou seu discurso observando que é preciso haver aqueles que processem demandas para o bem do interesse coletivo, buscando soluções porque "há crises, há choques, há pressões, há interesses que não são conciliáveis facilmente". Além do presidente, compareceu à solenidade de inauguração, o ministro de Minas e Energia, Francisco Gomide, e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.