Decisão do Copom de baixar a Selic não foi unânime

28/02/2002 - 10h45

Brasília, 28 (Agência Brasil - ABr) - Por maioria de cinco a três, o Comitê de Política Monetária (Copom)decidiu, na semana passada, reduzir a taxa básica de juros da economia (Selic) de 19%, ao ano, para 18,75%, ao ano. De acordo com ata da reunião, divulgada hoje pelo Banco Central, a decisão não foi unânime, como tem ocorrido nos últimos meses, porque parte dos membros do Comitê interpretaram os cenários interno e externo, incluindo a queda recente da inflação, como evidência suficiente para confirmar a projeção de queda da taxa em direção à trajetória de suas metas. Segundo o documento, outros membros, no entanto, consideraram que esses sinais são preliminares e que ainda há necessidade de uma maior consolidação do cenário econômico que poderá ocorrer no futuro próximo.

Para os membros do Copom, a manutenção da taxa de juros em 19% ao ano e da taxa de câmbio no patamar (R$ 2,42) que prevalecia na véspera (18 de fevereiro) da última reunião, apontam para uma inflação em 2002 ao redor de 4%. Na reunião anterior, a expectativa ficou abaixo de 4%. A meta central da inflação para este ano é de 3,5%, com margem de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Para 2003, mantidas a taxa de juros e o câmbio constantes no nível atual, a projeção do Comitê é de uma taxa abaixo do centro da meta de 3,25%, a mesma previsão do mês anterior.

O Copom avalia que, em função da magnitude dos choques de oferta ocorridos em 2001, o prazo apropriado para se eliminar a inércia inflacionária herdadada do período pode se estender além do ano calendário de 2002. Segundo o Comitê, a inércia inflacionária em decorrência da parte da inflação que excedeu a meta em 2001 (4% com margem de dois pontos para mais ou para menos) deve contribuir com mais 0,7 ponto percentual para o IPCA deste ano e que parte dessa inércia será eliminada em 2003. Em 2001, a inflação ficou em 7,67%.

Para o conjunto de preços administrados e monitorados (como energia elétrica, telefonia e transporte urbano), o Copom projeta reajustes de 5,7% para este ano, e de 3,8%, em 2003, com contribuição direta para a inflação de 1,7 ponto percentual e de 1,2 ponto percentual, respectivamente. Na reunião anterior, estimava-se majorações para esse preços de 5,4%, para este ano, e de 3,4%, para 2003. Destaca-se na ata, que esse aumento de 0,3 ponto percentual na projeção para 2002 da inflação dos preços administrados, entretanto, concentrou-se quase todo em janeiro, de forma que não houve alteração significativa da projeção de inflação para o restante do ano.

O documento do Copom estima em 19,3%, contra 20,4% no mês passado, o reajuste para as tarifas de energia elétrica, este ano. Para 2003, a projeção é de 14%. A ata informa que esses reajustes incoporam os aumentos extraordinários para energia elétrica já ocorridos este ano e o de 4% previsto para o próximo ano.

O Comitê avalia ainda que o cenário externo tem melhorado, mas requer atenção. Os membros do Comitê acreditam na possibilidade de que se inicie, já neste semestre, a recuperação da economia dos Estados Unidos. No entanto, observam, que o desenrolar da crise Argentina e os desdobramentos da situação interna de outros países latinos-americanos merecem monitoramento. Avaliam ainda que as flutuações moderadas da taxa de câmbio e a estabilidade do risco Brasil indicam que o efeito das incertezas no cenário internacional não vem se agravando.