Filho do ex-presidente Jango, João Vicente Goulart participou de bate-papo no Portal EBC

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Filho de Jango diz que Brasil ainda precisa refletir sobre reformas de base

Criado em 04/04/14 16h23 e atualizado em 02/01/15 12h37
Por Mariana Jungmann Edição:Stênio Ribeiro Fonte:Agência Brasil [2]

O filho do ex-presidente João Goulart (Jango), João Vicente Goulart, disse hoje (4) que o Brasil ainda precisa refletir sobre as reformas de base propostas por seu pai há 50 anos. Ele participou, no Senado, de sessão solene para lembrar o discurso que o ex-presidente fez na Central do Brasil, em 13 de março de 1964, para anunciar que colocaria em prática as reformas agrária e universitária e a nacionalização do petróleo, entre outras coisas.

Para João Vicente, os acontecimentos que levaram ao golpe militar devem ser recordados para que o país retome as discussões sobre as mudanças que precisam ser feitas. “Por isso, a reflexão se faz presente; a reflexão de uma proposta que o [ex-]presidente João Goulart tinha há 50 anos e que não era apenas de uma proposta de governo. João Goulart fez a propositura das reformas de base que modificariam as estruturas sociais, econômicas e políticas”, disse.

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Em seu discurso, o filho do ex-presidente citou a remessa de lucro das empresas de telefonia para o exterior, sem investimentos no setor, no Brasil; a estagnação da reforma agrária; e o que chama de “competitivismo” nas universidades. Isso para dar exemplos, segundo ele, dos efeitos nocivos que a interrupção das reformas de base trouxe. “Jango, já no exílio, dizia que um país mais rico não é aquele que tem um PIB [Produto Interno Bruto] maior, não é aquele que exporta mais, não é aquele que tem uma balança comercial favorável. Um país mais rico é aquele em que o seu povo tem o índice de desenvolvimento melhor, em que as crianças estão mais bem cuidadas, em que as oportunidades são idênticas para todos”, disse.

Em concordância com João Vicente, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) disse que a nação brasileira ansiava por mudanças naquela época, como se “estivesse grávida de um tempo novo”. Na opinião dele, o golpe militar, ao impedir as reformas, provocou um retrocesso no desenvolvimento do país. “Embora o dia 13 de março seja lembrado mais como ponto de partida do golpe conservador, eu sempre gosto de lembrar a data como um ponto de coroamento da tentativa de fazer as reformas que o Brasil precisava: frustradas, derrotadas, mas necessárias. Necessárias a tal ponto que até hoje a gente sabe que muitas delas continuam como uma necessidade. Aquele Brasil que ansiava nascer foi interrompido e, no lugar, foram feitas reformas pelo lado conservador”, disse o senador.

Autor do requerimento para a sessão solene, o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) disse que a lembrança dos momentos históricos é importante para que o Brasil supere de vez os traumas provocados pela ditadura militar. “Assim como na vida pessoal, é necessário para todos nós fazermos a catarse quando passamos por traumas e procuramos um psicólogo, é preciso fazermos catarse dos traumas que passamos, é necessário a vida nacional brasileira fazer uma profunda catarse do trauma que foram os 21 anos de tristeza, tortura, dor e morte”, disse.

Para ele, “muitas mentiras” foram divulgadas pelo regime militar, entre elas a de que os 21 anos dos governos de exceção foram os anos em que o Brasil mais cresceu. Relembrando números, Randolfe disse que os anos em que o Brasil mais cresceu economicamente foram os de democracia pré-golpe. “Naquele período, durante três vezes consecutivas, o Brasil chegou a crescer 11% ao ano. A nossa média de crescimento econômico era de 7,6% ao ano. No período seguinte, da ditadura, mesmo tendo crescido 14% em um ano, o crescimento não foi, em média, superior a 6%, e o período seguinte – o período em que vivemos até hoje – foi de baixo crescimento econômico, o pior”, disse.

O Congresso fez várias sessões solenes nesta semana para lembrar fatos relacionados ao golpe militar, que completou 50 anos no último dia 31. O discurso de João Goulart na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, e o anúncio das reformas de base são considerados, historicamente, o estopim para o golpe, quando os militares entenderam que precisavam frear as medidas consideradas comunistas do então presidente da República.

Editor: Stênio Ribeiro

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