Plenário do Fórum da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo, onde 26 policiais militares serão julgados pelo caso que ficou conhecido há mais de 20 anos como o Massacre do Carandiru

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Julgamento do Carandiru prossegue hoje com testemunhas de defesa

Criado em 30/07/13 08h27 e atualizado em 30/07/13 08h54
Por Elaine Patricia Cruz Edição:José Romildo Fonte:Agência Brasil [2]

Plenário do julgamento do Massacre do Carandiru
Ontem (29), no primeiro dia desta segunda etapa do julgamento, os trabalhos do júri duraram cerca de 13 horas. (Marcelo Camargo/ABr)

São Paulo - A segunda etapa do julgamento do Massacre do Carandiru prossegue hoje (30), às 10h, com os depoimentos das testemunhas de defesa. Os nomes das testemunhas não foram ainda confirmados, mas a expectativa é que sejam ouvidas quatro testemunhas presencialmente e duas terão seus depoimentos, que foram prestados na primeira etapa do julgamento, exibidos por meio de vídeos.

Ontem (29), no primeiro dia desta segunda etapa do julgamento, os trabalhos do júri duraram cerca de 13 horas. Foram ouvidas as testemunhas de acusação. A primeira a ser ouvida foi o perito criminal Osvaldo Negrini Neto. Em seu depoimento, o perito descartou a hipótese de que haja ocorrido confronto entre policiais e detentos no massacre.

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“Se houvesse confronto, haveria vestígios nas paredes opostas [às paredes das celas]. No terceiro pavimento, [havia] só [marcas de] dois disparos no corredor, próximos à porta da cela, [indicando] que foram dados de frente para a cela”, disse o perito aos promotores Fernando Pereira Filho e Eduardo Olavo Canto. Segundo ele, os disparos foram feitos da soleira da porta para dentro da cela, indicando que os disparos foram feitos pelos policiais e não pelos detentos.

Negrini Neto já foi ouvido em abril, na primeira etapa do julgamento sobre o Massacre do Carandiru, quando 23 policiais militares foram condenados pela morte de 13 detentos, ocorrida no segundo pavimento (ou o primeiro andar do pavilhão). Nesta segunda etapa do julgamento do massacre, 26 policiais militares são acusados pela morte de 73 detentos no terceiro pavimento (que corresponde ao segundo andar) do Pavilhão 9 do antigo presídio.

Após o depoimento de Negrini Neto, os promotores do caso apresentaram três vídeos com depoimentos de testemunhas ouvidas no primeiro bloco do julgamento, em abril . O primeiro vídeo exibido foi o do ex-detento Antônio Carlos Dias. Em seu depoimento, Antônio relatou as circunstâncias em que os policiais militares invadiram o presídio e como abordaram os presos. "Se olhasse na cara do policial, eles atiravam. Eu presenciei isso. Não lembro do rosto de nenhum porque sai da cela olhando para o chão", declarou.

Dias disse ainda que alguns presos foram mortos mesmo após o retorno às celas. “Quando retornamos [depois de recolhidos no pátio] havia muitos policiais nos andares. Os presos foram recrutados para carregar os corpos. Vi uma dessas pessoas ser morta".

O segundo vídeo exibido foi o do também ex-detento Marco Antonio de Moura. O último vídeo a ser exibido foi de Moacir dos Santos, que era diretor da Divisão de Segurança e Disciplina da Casa de Detenção do Carandiru e substituto imediato do então diretor do presídio, José Ismael Pedrosa.

Moacir dos Santos disse que os policiais entraram no presídio, naquela ocasião, já atirando. “A Tropa de Choque entrou invadindo, não respeitando nem o Ubiratan [coronel Ubiratan Guimarães, comandante da Polícia Militar na época em que ocorreu o Massacre do Carandiru]”, lembrou Santos. “Ele [Ubiratan] não deu ordem para isso, mas depois viu que não tinha mais jeito”. Segundo Santos, o coronel Ubiratan não chegou nem a ficar dois minutos no Carandiru, pois foi atingido por um aparelho de TV que foi arremessado do pavilhão e teve que ser socorrido.

Santos disse que estava trabalhando nesse dia quando recebeu a notícia de que dois detentos do Pavilhão 9 tinham se ferido após uma briga. “Soube que houve tumulto por causa dessa briga e me dirigi para o Pavilhão 9”, contou. Quando chegou lá, viu que, no terceiro andar, alguns presos estavam encapuzados. “Não fizeram nada contra os funcionários, queriam que a gente saísse dali para que eles pudessem fazer o acerto de conta deles”.

Ele contou que os funcionários foram retirados do pavilhão e que a grade de acesso dos presos foi trancada, impedindo que os detentos que estavam no térreo subissem. Uma comissão de autoridades foi montada para discutir a rebelião, tendo a presença de dois juízes, disse Santos. A intenção era tentar negociar o fim da rebelião. No entanto, segundo ele, não houve tempo para a negociação. “A Rota entrou primeiro e já chegou metralhando e não nos deixou socorrer os presos metralhados”.

Depois que a ação policial no local terminou, o diretor disse ter entrado no pavilhão e visto “uma escada onde escorria sangue e água, parecendo uma cascata”. Ele também contou ter visto amontoados de corpos no segundo andar.

O diretor disse não acreditar que os presos estivessem armados nesse dia, apesar de, no final da operação, os policiais terem lhe mostrado algumas armas de fogo que disseram, naquele dia, estar no poder dos presos. “Acho improvável que aquilo fosse dos presos. Se eles tivessem [armas de fogo], eles as teriam usados”. Além disso, disse o diretor, as “armas eram bem velhas, muito antigas” e dificilmente poderiam ser usadas. O diretor também lembrou que não presenciou, na ocasião, qualquer policial que tenha ficado ferido durante a ação.

Por envolver um grande número de réus e de vítimas, o julgamento do Massacre do Carandiru foi desmembrado em quatro etapas, de acordo com o que aconteceu em cada um dos quatro andares do Pavilhão 9 da Casa de Detenção.

Edição: José Romildo
 

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