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Brasil é o país com mais mortes em brigas de torcidas organizadas, diz sociólogo

Criado em 31/10/16 21h05 e atualizado em 31/10/16 21h19
Por Patrícia Serrão - Portal EBC Edição:Luiz Claudio Ferreira

O confronto entre a torcida do Corinthians e a polícia na reabertura do Maracanã, no dia 23, após os Jogos Olímpicos, trouxe à tona o debate sobre a violência das torcidas organizadas no futebol. O sociólogo Mauricio Murad, professor da Universidade Salgado de Oliveira (Universo), estuda a violência no futebol há 26 anos e é autor do livro “Para entender a violência no futebol”. Ele afirma que o Brasil é o país onde mais morrem torcedores em função das brigas.

 

“Existe uma cultura de violência. Ela é generalizada, mas no caso brasileiro, ela é mais aguda. O Brasil é o campeão do número de mortes de torcedores por conflitos em torcidas organizadas. Nos dois últimos anos, 3% dos delitos no âmbito do futebol: racismo, xenofobia, machismo, agressão, mutilação e morte, foram punidos. Segundo o cientista social, existem cultura machista e da violência. “No caso brasileiro, isso é mais agudo e alimenta do contexto geral da sociedade brasileira que é uma sociedade com um grau de violência muito grande”, conta.

 

Desde 2012 o professor contabiliza as mortes em função de confronto de torcedores. Esses dados apontam que só no ano de 2016 já houve nove mortes, sendo que mais seis estão em processo de investigação. Assim, o número pode chegar a 15. A pesquisa do sociólogo mostra também que o estado mais violento do país é São Paulo, seguido pelo Rio Grande do Norte e Pernambuco. O Rio de Janeiro, apesar de possuir a maior torcida do país, não se destaca neste índice. “O Rio de Janeiro é o único local no Brasil que tem uma polícia especializada para segurança nos ginásios que é o GEPE (Grupamento Especial de Policiamento em Estádios). Isso faz diferença, embora ainda precise treinar, qualificar e organizar melhor”, explica Murad.

 

"Torcida única não resolve"

 

Maurício Murad explica que os jogos de torcida única, como acontecem nos clássicos de Minas Gerais e de São Paulo, não ajudam a resolver os episódios de confrontos. “A experiência da torcida única diminui a violência dentro do estádio porque não tem o confronto, mas em compensação aumenta a violência fora dos estádios, nos arredores e até em pontos distantes. Se você considera que aquela determina torcida não pode entrar no estádio porque ela é violência, se você libera e ela se espalha pela cidade aí é que a polícia não controla mesmo”, afirma. Para ele, é preciso uma série de medidas para que se possa começar a solucionar a questão.

“Eu tenho defendido há muitos anos que o problema da violência no futebol é complexo e não há solução milagrosa nem simples”. O sociólogo defende que deve haver um conjunto de medidas para sanar o problema nos âmbitos da segurança pública, dos clubes, da federação e até da mídia. “Eu acho que é um conjunto integrado de medidas repressivas, preventivas e reeducativas que integradas podem resolver isto"

 

Murad cita que o exemplo europeu é nítido para compreender como a situação pode mudar. “Houve punição do clube, mas não só isso. Houve preparo da polícia, proibição de bebidas alcoólicas, organização dos estádios, prisão dos torcedores vândalos e controle organizado por parte das federações”.

 

Outra medida que o professor defende é a punição aos torcedores brigões. “O problema da violência tem se repetido e as medidas para resolver este problema têm sido ineficientes. Isto acontece no mundo todo, mas a impunidade no Brasil ela é uma coisa drástica, radical, que estimula novos delitos”.

Tags:  violência [3], torcidas [4], futebol [5]
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