Ernesto Geisel durante sanção da lei que altera o dispositivo da consolidação das leis do trabalho durante o regime militar

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Wikileaks: EUA consideravam governo militar do Brasil "paranoico"

Criado em 08/04/13 17h14 e atualizado em 08/04/13 18h34
Por Jessica Mota / Agencia Publica [2]

Ernesto Geisel sanciona lei que altera dispositivo da CLT
Ernesto Geisel durante sanção da lei que altera o dispositivo da consolidação das leis do trabalho durante o regime militar (Agência Pública)

Em telegrama secreto enviado de Brasília, em 30 de janeiro [3], pelo então embaixador, John Hugh Crimmins, o governo brasileiro é retratado como “controlado e apoiado por militares conservadores que são fortemente anticomunistas – às vezes até paranoicos –” e aliado a “uma elite temerosa da massa e de seus representantes”.

“Em sua maioria, os militares estão convencidos de que o Brasil tem sido e continua sendo um dos alvos principais do que é chamado, com as letras iniciais em maiúsculas, Movimento Internacional Comunista”, ironiza Crimmins.

O objetivo do telegrama era responder a uma averiguação [4], movida pelo Departamento do Estado, sobre eventuais estragos na imagem dos Estados Unidos entre os brasileiros, diante da derrota americana no Vietnã, do escândalo Watergate e, em especial, das investigações, no Senado dos EUA, sobre a participação da CIA no golpe de 1973 do Chile, conhecidas como Church Report.

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Crimmins constatou que, de fato, para alguns membros do governo e dos setores conservadores, os Estados Unidos estavam perdendo sua potência e capacidade de defesa do Ocidente, principalmente por influência do próprio Congresso americano. Para os militares brasileiros, o sistema político ideal seria um governo concentrado no poder executivo.

“O governo brasileiro, e brasileiros informados em geral, tem tido pelo menos algum contato com as regras básicas e mecanismos do processo político dos EUA, e eles estão cientes da existência, por exemplo, do papel do Congresso no processo de tomada de decisão nacional nos EUA, de grupos de pressão, do princípio da igualdade dos poderes em um sistema de freios e contrapesos, e da liberdade de imprensa. O que muitas vezes eles não conseguem entender totalmente são as implicações desses elementos para uma sociedade verdadeiramente liberal e pluralista. Inclinados a julgar a estrutura política dos EUA baseados em sua própria experiência, esses brasileiros estão dispostos a interpretá-lo como um governo que é, ou que pelo menos deveria ser, dominado pela vontade do poder executivo em assuntos vitais”, analisa Crimmins.

O destino do Brasil

O embaixador aponta ainda a tendência de ver a “a assertividade do Congresso e as exposições agressivas da imprensa sobre casos como o Watergate e da CIA, como comportamento destrutivo e indisciplinado, fomentado por influência comunista na imprensa e encorajado pela fraqueza do que deveria ser ‘a autoridade máxima’, o poder executivo”.

O caso do Vietnã também havia afetado a visão brasileira em relação à capacidade e disposição dos Estados Unidos em aceitar envolvimentos internacionais. Por isso, ainda que o Brasil mantivesse a preferência de lidar bilateralmente com os Estados Unidos, havia um senso de solidariedade com os vizinhos latinos que poderia ser útil para pressionar os EUA em questões de interesse direto do Brasil.

A conclusão, porém é otimista. Segundo Crimmins, à época, figuras importantes do governo brasileiro sustentavam que “o destino do Brasil era melhor ao lado dos poucos ricos e poderosos do que da maioria pobre e fraca”.

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