Compartilhar:
O que leva um médico brasileiro ao interior do país
Criado em 10/06/13 13h41
e atualizado em 10/06/13 16h27
Por Noelle Oliveira*
Edição:Priscila Ferreira
Fonte:Portal EBC
Remuneração, localização do trabalho, carga horária e acesso à residência médica. São esses, e nessa ordem, os fatores que mais pesam na hora de um médico brasileiro decidir ir trabalhar em regiões interioranas e carentes por atendimento. Os fatores principais são elencados pela pesquisa Fortalecimento da capacidade de planejamento de recursos humanos para sistemas nacionais de saúde, Estação de Pesquisa e Sinais de Mercado (EPSM), ligada ao Núcleo de Educação em Saúde Coletiva da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Entre os fatores de influência aparecem, ainda, a oferta de moradia pelo governo; condições de trabalho e infraestrutura; vínculo de trabalho e rede de referência – nessa ordem. Os pesquisadores entrevistaram 1.157 médicos brasileiros que trabalham em regiões carentes incentivados por programas do Ministério da Saúde e avaliaram, por meio das preferências declaradas, o peso dos diferentes incentivos.
SÉRIE ESPECIAL SOBRE INTERIORIZAÇÃO DA SAÚDE:
- Onde estão os médicos do Brasil?
- Governo amadurece política para trazer médicos estrangeiros ao Brasil
- O que esperar da demografia médica brasileira até 2030
- Classe médica diverge sobre contratação de estrangeiros
- CFM defende reformulação do Provab como alternativa
- Exportação de médicos é crucial para a economia de Cuba
A maior rejeição por parte dos médicos ocorre em relação os pontos de trabalho em regiões de fronteiras. Com exceção dos médicos que atuam na região Norte do Brasil, que apresentam uma rejeição menor às ofertas de vagas nessas áreas, os demais profissionais não se sentem atraídos a trabalharem nessas regiões,mesmo diante do nível mais alto de remuneração, na pesquisa, R$ 13 mil. “Em segundo lugar, em termos de resistência, ficam as regiões inseguras”, explica o sociólogo e pesquisador Lucas Wan Der Maas.
Ouça aúdio com o sociólogo:
Déficit
Na última década, conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o Brasil gerou 54 mil postos de trabalho a mais do que o número de profissionais formados. Apenas em 2011, foram criados quase 19 mil empregos, enquanto 13 mil médicos se formaram.
O governo brasileiro lançou mão de diversas políticas e estratégias ao longo das últimas décadas visando à extensão da cobertura e a interiorização da medicina. O Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica (Provab) é um deles. O profissional recebe bolsa federal no valor de R$ 8 mil mensais e tem suas atividades supervisionadas por uma instituição de ensino. Ele deve cumprir 32 horas semanais de atividades práticas nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e oito horas semanais de curso de pós-graduação em Saúde da Família com duração de 12 meses. Para os médicos bem avaliados, o Provab possibilita bonificação de 10% nos exames de residência médica.
O incentivo, no entanto, não tem atraído o volume de mão de obra almejado. Em 2013, enquanto as prefeituras de diversas regiões do País demandaram por 13 mil médicos para municípios de interior e periferias, apenas 3,8 mil profissionais começaram a atuar em 1,3 mil municípios. Segundo dados do Ministério da Saúde, dos 1.091 municípios nordestinos que solicitaram médicos pelo programa, 457 não receberam sequer um profissional. Em todo o País, 55% dos municípios que solicitaram médicos não foram atendidos. Em especial as regiões Sul, 74%, e Norte, 66%. “É preciso buscar uma remuneração razoável, condições de trabalho e o País precisa avançar em infraestrutura e carreira para não só atrair, como fixar esses profissionais”, considera o médico e pesquisador da EPSM, Sábado Girardi. “Mesmo assim não podemos desconsiderar os resultados, o caminho está certo, quatro mil médicos é muita coisa”, avalia o sociólogo Lucas Wan Der Maas.
Paralelamente à atração de médicos, o ministério está investindo em infraestrutura – abriu uma linha de financiamento da ordem de R$ 1,6 bilhão para reforma, ampliação e construção de Unidades Básicas de Saúde (UBS). Também é oferecido desconto na dívida daqueles profissionais que utilizaram o Programa de Financiamento Estudantil (FIES) e que trabalham em localidades indicadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “Estimulamos a abertura de programas de residência fora das capitais, uma vez que já identificamos que eles são fatores que influenciam diretamente a fixação desses profissionais. Com isso, a intenção é mudar eixo de alocação desses profissionais”, conclui o diretor de programa da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, Fernando Menezes.
*Colaborou Léo Rodrigues
*Edição: Priscila Ferreira
Deixe seu comentário