one pixel track analytics scorecard

Digite sua busca e aperte enter


Assembleia guarani reúne índios do Mato Grosso do Sul

Imagem:

Compartilhar:

Resistência Guarani-Kaiowá no Mato Grosso do Sul marca 2012

Criado em 17/12/12 16h48 e atualizado em 21/12/12 19h49
Por Sueli de Freitas Fonte:Portal EBC

Assembleia guarani reúne índios do Mato Grosso do Sul
Assembleia guarani reúne índios do Mato Grosso do Sul (Marcello Casal Jr/ABr)

A ordem de retirada dos índios Guarani-Kaiowá do acampamento Pyelito Kue/Mbarakay, na Fazenda Cambará, em Iguatemi, Mato Grosso do Sul (MS), emitida pela Justiça Federal de Navira/-MS no dia 29 de setembro, trouxe à tona o impasse vivido pelos indígenas que tiveram suas terras adquiridas por fazendeiros. O assunto teve repercussão em todo o Brasil, nas redes sociais e até internacionalmente, marcando o ano de 2012.

A carta da comunidade Guarani-Kaiowá para a Justiça e o Governo Brasileiro ganhou ampla repercussão devido à interpretação de que os índios estariam dispostos a se suicidar coletivamente em protesto contra a decisão judicial. “Moramos na margem do Rio Hovy há mais de um ano e estamos sem nenhuma assistência, isolados, cercados de pistoleiros e resistimos até hoje. Passamos tudo isso para recuperar o nosso território antigo […]. E decidimos integralmente a não sairmos daqui com vida e nem mortos”, narram os índios na carta. 

Veja  Vídeo exibido no quadro Outro Olhar, da TV Brasil, que mostra as denúncias dos índios Guarani-Kaiowá sobre a expulsão de suas terras por causa do mercado da cana-de-açúcar e o genocídio que vem ocorrendo há anos.

Os conflitos em Mato Grosso do Sul são frequentes. No mês de agosto, a comunidade Guarani-Kaiowá foi atacada a tiros. A suspeita dos indígenas é que esse ataque e os anteriores partiram de fazendeiros da região que tentam reaver a terra ocupada pela etnia.

No dia 16 de outubro, o Ministério Público Federal (MPF) em Dourados recorreu ao Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF3) contra a decisão da 1ª Vara Federal em Naviraí (MS), que determinou a saída do grupo de 170 índios, incluindo 50 crianças, da fazenda.  A Justiça de Mato Grosso do Sul veio posteriormente a público informar que a liminar era de manutenção de posse aos fazendeiros e não de reintegração da área ocupada com expulsão dos índios.


As manifestações dos próprios indígenas e de movimentos sociais e estudantis em apoio às comunidades foram intensificadas. No dia 19 de outubro, os índios cobriram o gramado da Esplanada dos Ministérios com cruzes, em Brasília, num protesto contra a violência na região e pedindo a demarcação definitiva das terras. No Rio de Janeiro, a concentração foi em frente ao Museu do Índio. Novamente em Brasília, com rostos pintados, estudantes de escolas e universidades se reuniram com representantes de movimentos sociais e indígenas de vários estados para manifestar o apoio às comunidades. A Avenida Paulista, no centro de São Paulo, também foi ocupada por manifestantes.

Os protestos também ganharam as redes sociais. Um abaixo-assinado mobilizou internautas pela causa dos índios Guarani-Kaiowá. A campanha "Eu Apoio a causa indígena”  resultou num documento com milhares de assinaturas que foi entregue à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Muitos usuários da rede social Facebook passaram acrescentar "Guarani-Kaiowá" ao primeiro nome em seus perfis, para mostrar apoio à causa indígena.  No twitter, as hashtags #SouGuaraniKaiowa  e #SomosTodosGuaraniKaiowa ganharam destaque.

O debate chegou também à Cúpula Social do Mercosul, que aconteceu no início de dezembro. A Declaração de Brasília afirmou que “a integração que queremos requer o reconhecimento da diversidade de sujeitos socioculturais existentes e dos territórios dos povos e nações indígenas, que inclusive muitas vezes ultrapassam as fronteiras dos Estados nacionais”. O documento pediu o “fim da perseguição e o aniquilamento de povos indígenas, em particular do povo Guarani-Kaiowá”.

No dia 29 de outubro,deres indígenas pediram à Procuradoria-Geral da República (PGR) mais segurança e urgência no processo de demarcação de suas terras em Mato Grosso do Sul. Os índios relataram a ocorrência de mais um suicídio e denunciaram o estupro de uma índia ocorrido no dia 24 de outubro.

Outra denúncia dos índios foi de envenenamento do córrego Ypo’i. Localizado em Paranhos, na fronteira do estado com o Paraguai, o riacho é a principal fonte de água dos Guarani-Kaiowá. De acordo com os indígenas, fazendeiros da região teriam jogado veneno na água no dia 14 de novembro. Um vídeo feito por um dos índios da comunidade mostra o córrego coberto por uma espuma branca. O Ministério Público Federal em Mato Grosso do Sul determinou que a Polícia Federal instaurasse inquérito para averiguar a denúncia de envenenamento.

No dia 30 de outubro, o Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF3), em São Paulo,  decidiu manter os Guaranis Kaiowás na fazenda Cambará até sair a decisão final sobre a demarcação do território. Na avaliação dos índios, a decisão do TRF foi positiva, mas não resolve o conflito, que afeta várias outras comunidades indígenas do Mato Grosso do Sul.

Preocupados com o impasse, os deputados federais aprovaram a ida de uma comissão da Câmara a Mato Grosso do Sul para acompanhar conflito entre índios e fazendeiros. Em audiência no dia 1º de novembro no Senado Federal, a deputada Erika Kokay, da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, alertou que os indígenas estão confinados em um espaço pequeno de terra no qual não podem exercer sua cultura.

O procurador da República em Dourados (MS), Marco Antonio Delfino, afirmou que a União deve reconhecer sua responsabilidade no processo de colonização do Estado que resultou no quadro atual de conflito agrário na região. Na época, para que fazendeiros se instalassem no Estado, o governo federal concedeu a eles títulos de posse de terras que eram tradicionalmente ocupadas por índios. O procurador sugeriu que a União repasse recursos, por um período de dez anos, para ressarcir fazendeiros, com base no valor da terra nua, o que viabilizaria o assentamento definitivo dos indígenas da região.

O Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (CDDPH/ SDH) defendeu, no dia 11 de dezembro, a aprovação de uma medida provisória para a criação de um fundo federal para indenização dos produtores de Mato Grosso do Sul e viabilizar o assentamento definitivo dos indígenas.

De acordo com laudo antropológico da Funai, os índios foram expulsos da área a partir de 1938, quando o governo do então estado do Mato Grosso passou a doar terras a colonos e fazendeiros como parte de seu projeto de assentamento. As populações indígenas foram confinadas em pequenas reservas.

Os Guarani-Kaiowá finalizaram 2012 sem uma solução definitiva para a retomada do seu solo sagrado. Em vídeo produzido pela Associação Cultural de Realizadores Indígenas (Ascuri), um dos líderes da etnia "Puelito Kue" conta a histórica luta que os índios travam pela terra.

Veja também:

Filho de cacique assassinado pede que sociedade cobre solução para conflito entre índios e ruralistas

Proposta pode acabar com conflito envolvendo os Guarani Kaiowá

Veja abaixo Galeria de imagens da Aty Guasu, assembleia que reuniu centenas de índios Guarani-Kaiowá e Guarani-Nhandeva em Douradina (MS), no dia 2 de dezembro.

 

 

Creative Commons - CC BY 3.0

Dê sua opinião sobre a qualidade do conteúdo que você acessou.

Para registrar sua opinião, copie o link ou o título do conteúdo e clique na barra de manifestação.

Você será direcionado para o "Fale com a Ouvidoria" da EBC e poderá nos ajudar a melhorar nossos serviços, sugerindo, denunciando, reclamando, solicitando e, também, elogiando.

Fazer uma Denúncia Fazer uma Reclamação Fazer uma Elogio Fazer uma Sugestão Fazer uma Solicitação Fazer uma Simplifique

Deixe seu comentário