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Jango fez último discurso como presidente há 52 anos
Criado em 30/03/16 10h01
e atualizado em 30/03/16 12h40
Por Leandro Melito
Fonte:Portal EBC
Brasília - Há 52 anos, no dia 30 de março de 1964, o então presidente João Goulart, do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), fazia seu último discurso na sede do Automóvel Clube no Rio de Janeiro. O fato aconteceu em meio à crise política que Jango enfrentava desde que assumiu o governo em 1961, após a renúncia de Jânio Quadros, e se intensificou em março de 1964 após o discurso realizado pelo presidente na Central do Brasil no dia 13 de março, que marcou uma guinada à esquerda em seu governo.
A partir do dia 13, os militares e outros setores conservadores da sociedade intensificaram a articulação para a derrubada do presidente, com apoio de grande parte da imprensa. Confira a cronologia dos fatos que desencadearam o Golpe de Estado em 1964.
Revolta dos marinheiros
A atuação de Jango frente a um protesto de cerca de 2 mil marinheiros e fuzileiros navais, no dia 25 de março daquele ano, desgastou ainda mais o presidente junto aos militares. A ordem de João Goulart para que o sindicato não fosse invadido ocasionou a renúncia do ministro Sílvio Mota. Em seu lugar Jango nomeou Paulo Mário da Cunha Rodrigues, ligado ao PCB, o que irritou os militares.
No dia 28 de março, oficiais do gabinete militar da presidência conseguiram um acordo com os marinheiros que abandonaram o prédio e foram presos no quartel do Exército em São Cristóvão. João Goulart concedeu anistia aos revoltosos que saíram em passeata pelas ruas do Rio de Janeiro. Exército, Marinha e Aeronáutica consideraram o gesto do presidente como uma quebra no comando da hierarquia militar.
Saulo Gomes, repórter e diretor de jornalismo da rádio Mayrink Veiga, que cobriu a revolta dos Marinheiros que antecedeu o Golpe Militar de 1964, lembra como foram aqueles dias. A entrevista foi concedida ao programa Caminhos da Reportagem, da TV Brasil:
O último discurso de Jango
Foi nesse contexto que João Goulart foi convidado para a cerimônia de posse da Associação dos Sargentos. O deputado Tancredo Neves, líder do governo na Câmara, e o ministro da Justiça, Abelardo Jurema, tentavam convencer Jango a não ir à reunião na sede do Automóvel Clube. “Deus faça que eu esteja enganado, mas creio ser esse o passo do presidente que irá provocar o inevitável, a motivação final para a luta armada”, teria dito Tancredo ao saber da decisão do presidente em comparecer ao evento apesar da crise política.
Jango chegou à sede do Automóvel Clube, no centro do Rio de Janeiro, pouco depois das 22h acompanhado de todos seus ministros civis e discursou para uma platéria de cerca de mil sargentos que se encontravam no salão. Em seu discurso, voltou a defender as reformas de base propostas por seu governo e fez um apelo aos sargentos. “O meu apelo é para que os sargentos brasileiros continuem cada vez mais disciplinados, naquela disciplina consciente, fundada no respeito recíproco entre comandantes e comandados. Que respeitem a hierarquia legal, que se mantenham cada vez mais coesos dentro de suas unidades e fiéis aos princípios básicos da disciplina”.
Movimentação para o Golpe
Apesar da tentativa de apaziguar os ânimos no meio militar com seu pedido aos sargentos pelo respeito à hierarquia militar, o último discurso de João Goulart como presidente acabou se tornando o estopim do Golpe Militar. "Quando João Goulart e seus ministros saíram da sede do Automóvel Clube naquela segunda-feira, 30 de março, a crise tinha chegado em seu auge", pontua em seu livro o biógrafo de João Goulart, Jorge Ferreira. Dali para a frente a articulação para o Golpe começa a se concretizar. Confira alguns fatos que se seguiram ao discurso de Jango naquel dia.
22h58
Um telegrama enviado do consulado americano aos EUA informava: “Duas fontes ativas do movimento contra Goulart dizem que o golpe contra o governo do Brasil deverá vir nas próximas 48 horas”. O Departamento de Estado norte-americano determinara a todos os consulados do Brasil que informassem diretamente a Washington “qualquer desenvolvimento significativo envolvendo resistência militar ou política a Goulart”.
23h35
Jango já retornara aos palácio das Laranjeiras. O presidente dos EUA Lyndon Johnson recebe em seu rancho, no Texas, um telefonema de Dean Rusk:
“A coisa pode estourar a qualquer momento (...) Pedi ao Bob McNamara (Robert McNamara, secretário de Defesa dos EUA) que apronte alguns navios-tanques para suprimentos (...) Esta é uma oportunidade que pode não vir a se repetir. Acho que é possível que esse assunto brasileiro exploda de hoje para amanhã e vou estar em contato com o senhor sobre isso, para que o senhor possa se planejar”.
Em Minas Gerais, o general Carlos Luís Guedes escolheu iniciar o levante no dia 30, porque era noite de lua cheia e ele não queria desencadear a revolta num quarto minguante.“Porque dia 30 é o último dia de lua cheia, e eu não tomo nenhuma iniciativa na lua minguante; se não sairmos sob a lua cheia, irei esperar a lua nova e então será muito tarde”, anotou em seu diário.
No período da tarde determinou que soldados fechassem o trânsito perto de seu quartel-general, prendeu adversários políticos e organizou uma tropa chamada Força Revolucionária.
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