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“Cúria do Vaticano estava ingovernável”, diz José Luis Del Roio
Criado em 11/03/13 10h58
e atualizado em 11/03/13 16h15
Por Allan Walbert
Fonte:Portal EBC
O conclave que elege o sucessor do papa emérito Bento XVI começa nesta terça-feira (12). Para discutir o assunto, o Portal EBC conversou com José Luís Del Roio. Ele é ex-senador da Itália, foi membro da Assembleia Parlamentar de Estrasburgo e enquanto radialista cobriu durante vários anos a Igreja Católica e política vaticana, trabalhando principalmente na emissora Network Radio Popolare.
Durante o bate-papo, Del Roio comentou a renúncia de Bento XVI ao dizer que um fato como esse é algo “absolutamente anormal” e que outros motivos poderiam ser levantados além da idade avançada e questões de saúde alegadas por Joseph Ratzinger.
“Na história da igreja, o papa deve morrer no trono de Pedro mesmo que esteja em situação de incapacidade absoluta. Eu acho que as justificativas apontadas por Bento XVI o glorificam. Ele rompe um tabu. Existe um limite humano até para aquele se auto-intitula vicário de Cristo na Terra. Mas, na verdade, nos últimos dois ou três anos a cúria vaticana estava totalmente ingovernável. A fuga de documentos, a sucessão de escandalos, a falta de controle financeiro... esse papa não estava mais conseguindo controlar o governo”, expõe.
Confira a cobertura completa sobre a renúncia de Bento XVI e a sucessão papal
Reformas
Teólogos e especialistas em Vaticano fazem duras críticas sobre temas ignorados pela Santa Sé. Entre eles, estariam a ordenação de mulheres, o aborto, o uso da camisinha e o casamento gay. Para Del Roio, a ordenação de mulheres seria o tema mais importante para o novo papa lidar.
“Tem que 'pegar' o Segundo Concílio do Vaticano, tudo aquilo que eles aprovaram, e colocar em prática. Foi tudo colocado no congelador. Esse é o primeiro passo, mas tem muito mais coisa para fazer. A Igreja tem que enfrentar um problema chave que não é fácil, mas indispensável para a instituição não não definhar: a questão da mulher. Mais da metade da humanidade é feminina, e as mulheres são excluídas da igreja. Essa exclusão brutal, essa submissão que fazem contra as freiras não é possível. A igreja nasceu com o coração feminino e é deste que decorrem os outros assuntos”, argumenta.
Política
Na entrevista, Del Roio também emite sua opinião quanto ao perfil do novo líder do Vaticano e da Igreja. “Eu acho que seria bom um papa não-europeu para começar a dar uma visão diferente a esses temas sensíveis”, afirma.
O jornalista comenta as relações políticas do Vaticano com a Itália, tecendo curiosidades históricas a cerca dos dois Estados. “A influência do governo do Vaticano na Itália é total. Não é à toa que a maioria dos cardeais são italianos. A questão se agravou nos últimos 15, 20 anos. Antes, eles [os líderes do Vaticano] apoiavam um partido específico, o Partido Democata Cristão. Quando a Democracia Cristã se dissolveu no início dos anos 90, houve um apoio bastante notável à figura de Berlusconi. É um apoio vergonhoso a um governo que no plano ético e moral tem pouco a oferecer”, fala.
Quanto à relação do Vaticano com o Brasil, Del Roio sinaliza que existiu uma interferência do Estado europeu no sul-americano, porém não com tanta força como aconteceu entre aquele e a Itália. “A Comissão da Verdade tem um grupo que estuda a relação da ditadura com as igrejas cristãs, não só a católica. Vamos ver que houve uma inter-relação muito forte, embora existissem notáveis figuras contrárias. Tenho que dizer que depois da Redemocratização de 1988 parece-me que a Igreja e o Estado Brasileiro estão finalmente conseguindo ter um relacionamento mais equilibrado”, opina.
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