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Diagnóstico precoce poderia evitar cegueira em cerca de 30 mil crianças
Criado em 29/09/16 08h45
e atualizado em 29/09/16 08h47
Por Teani Freitas (Conselho Brasileiro de Oftalmologia) e Juliana Xavier (IFF/Fiocruz)
Fonte:IFF/Fiocruz
Retinopatia da prematuridade, catarata, toxoplasmose, glaucoma congênito e atrofia ótica são as principais causas de cegueira e baixa visão moderada e grave infantil no Brasil, isso é o que revela um levantamento produzido pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) e publicado no livro Prevenção da Cegueira e Deficiência Visual na Infância, de autoria da pesquisadora do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), Andrea Zin e da oftalmologista Keila Monteiro de Carvalho. No entanto, com a oftalmologia atual, pelo menos 70% das causas de cegueira e grave comprometimento visual infantil poderiam ser evitadas ou possuem tratamento efetivo.
Para reverter este quadro é preciso um cuidado multidisciplinar com todos os profissionais que acompanham a mulher desde antes do nascimento até os primeiros anos de vida do bebê. “O primeiro passo é a realização de um bom pré-natal, para identificar e tratar doenças infecciosas congênitas, como toxoplasmose, herpes, citomegalovírus, sífilis e, mais recentemente, o Zika vírus”, destaca Andrea Zin. Segundo a especialista, no nascimento e ao longo dos primeiros anos de vida, a principal estratégia de triagem é a realização do teste de reflexo vermelho, popularmente conhecido como teste do olhinho. “Esse teste simples é feito pelo pediatra e obrigatório por lei e gratuito, há mais de 10 anos, em diversos estados brasileiros”, ressalta a pesquisadora.
De acordo com o levantamento, aproximadamente 20% das crianças em idade escolar apresentam distúrbios oftalmológicos em decorrência de erros refracionais não corrigidos (ex: falta de óculos), estrabismo e ambliopia (diminuição da intensidade visual). “Dessas crianças, estima-se que 5% apresentem menos de 50% da visão normal”, destaca Keila Monteiro de Carvalho. Ainda segundo ela, diferente da pessoa que nasceu com a visão íntegra e, por diferentes causas, adquiriu a baixa visão na idade adulta, a perda da integridade do sistema visual nos primeiros anos de vida causa um grave impacto no desenvolvimento global, como problemas de autoestima, dificuldade de aprendizado e baixo desempenho escolar. Além disso, essa criança tem necessidade de educação especial e material adaptado.
Veja abaixo a lista das causas mais frequentes de cegueira e baixa visão infantil no Brasil
TOXOPLASMOSE OCULAR CONGÊNITA (14 a 40%):
Doença causada pelo protozoário Toxoplasma gondii. Estima-se que 33% da população estejam infectadas, embora a maioria seja assintomática. A doença pode ser classificada como congênita, quando a gestante se infecta na gravidez e o parasita atravessa a placenta e contamina o feto, ou adquirida, também chamada de pós-natal. O comprometimento ocular é a manifestação mais comum da toxoplasmose, e a doença é a principal causa de uveíte (inflamação da úvea, camada intermediária do olho) no mundo, podendo levar à sequela visual grave.
Prevenção: para inibir a infecção é recomendado evitar o consumo de carnes cruas ou mal cozidas, lavar adequadamente utensílios domésticos após contato com carne crua, consumir água fervida ou tratada, limpar frutas e vegetais antes do consumo, utilizar luvas para a manipulação do solo e caixas de areia, e controlar a alimentação e circulação de gatos.
Tratamento: uma vez feito o diagnóstico de toxoplasmose aguda na gestação, o tratamento busca diminuir o risco de parasitemia (número de parasitas presentes na corrente sanguínea) e, consequentemente, a transmissão vertical (de mãe para filho). “Neonatos com infecção congênita confirmada devem sempre receber tratamento antiparasitário no primeiro ano de vida, independentemente da presença ou não de sintomas”, afirma Andrea Zin. Em caso de lesão na retina no recém-nascido, pode ser indicado o uso de corticoide sistêmico, com o objetivo de diminuir o risco de complicações oculares secundárias à inflamação intraocular.
CATARATA INFANTIL (7 a 19%):
A catarata pediátrica, responsável por 14% das crianças cegas do mundo, é uma das principais causas tratáveis ou preveníveis de cegueira na infância. “Uma criança com catarata congênita total bilateral, ou seja, nos dois olhos, não operada antes dos 3 meses de vida, desenvolverá nistagmo (movimento oscilatório e/ou rotatório do globo ocular) e será cega por toda a vida”, destaca Keila Monteiro.
Prevenção: normalmente a catarata infantil pode ser de causa hereditária, por infecções maternas (rubéola, toxoplasmose, citomegalovírus e outras), causas metabólicas (hipoglicemia e hipocalcemia), síndromes, entre outros fatores. Assim, o objetivo é a identificação e tratamento precoce. O teste do reflexo vermelho é a forma mais adequada para detecção precoce da catarata em crianças e deve ser realizado durante as primeiras semanas após o nascimento e três vezes ano até o segundo ano de vida. Para ser considerado normal, o examinador deve enxergar um reflexo vermelho ou alaranjado e simétrico. Esse exame é atualmente obrigatório em 16, dos 26 estados brasileiros, e no Distrito Federal.
Tratamento: quando a catarata compromete o eixo visual, o tratamento é, basicamente, cirúrgico. As modernas técnicas cirúrgicas e avanços no uso de equipamentos e insumos, como viscoelásticos e lentes intraoculares, têm melhorado sensivelmente os resultados anatômicos e visuais das cirurgias de catarata em crianças.
RETINOPATIA DA PREMATURIDADE (3 a 21%):
É uma doença que compromete a vascularização da retina imatura dos recém-nascidos prematuros. Estima-se que existam no mundo cerca de 1,5 milhão de crianças cegas. Destas, 100 mil estão na América Latina, e cerca de 20% dos casos a cegueira ocorrem pela retinopatia da prematuridade.
Prevenção: é uma doença diretamente ligada ao nascimento prematuro, assim, a melhor forma de prevenção é através da realização do pré-natal. Os fatores de risco para a doença relatados na literatura são prematuridade, muito baixo peso ao nascer, síndrome do desconforto respiratório, sepse, transfusões sanguíneas, gestação múltipla e hemorragia intraventricular.
Tratamento: existem vários estágios da doença e apenas os casos mais graves têm indicação de tratamento, pelo risco de complicações e cegueira. Quando indicado, o tratamento é realizado através da fotocoagulação retiniana, normalmente com laser diodo ou argônio sob anestesia local.
GLAUCOMA CONGÊNITO (11 A 18%):
O termo glaucoma infantil representa um grupo de doenças raras que tem como característica a pressão intraocular elevada, lesão no nervo óptico, impacto no desenvolvimento do globo ocular e da acuidade visual. No Brasil, o glaucoma infantil está entre as principais causas de cegueira em crianças.
Prevenção: os cuidados começam com a realização de exames pré-natais para identificação e tratamento de doenças infecciosas congênitas e aconselhamento genético para doenças hereditárias, como o glaucoma. Ao nascimento e ao longo dos primeiros anos de vida, a principal estratégia de triagem é a realização do teste do reflexo vermelho.
Tratamento: o glaucoma na infância requer intervenção cirúrgica em praticamente todos os casos. Em geral, 25% necessitam de uma segunda intervenção no primeiro ano após o diagnóstico.
ATROFIA ÓTICA (10,5%):
A atrofia do nervo óptico resulta na desconexão das ligações nervosas que unem o olho ao cérebro. Quando chega ao ponto de atrofiar, o nervo óptico não transmite mais os sinais luminosos para o cérebro montar a imagem.
Prevenção: como a atrofia é o ponto final do processo de perda de visão pelo desligamento do nervo óptico, suas causas podem ser variadas. Os principais sinais do processo de atrofia são visão embaçada, perda aguda da capacidade de distinção das cores, diminuição da acuidade visual (qualidade da visão) e a perda do campo visual (quantidade de visão).
Tratamento: o tratamento é realizado de acordo com a causa da atrofia do nervo ótico. Se o processo de atrofia for causado pelo glaucoma, não há cura, apenas tratamento para estagnar a perda de visão e proporcionar uma melhor qualidade de vida ao paciente. Nas outras situações, tratando a causa, o processo de atrofia desaparece.
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