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Como ler para bebês cegos?
Criado em 17/10/13 14h10
e atualizado em 18/10/13 09h45
Por Adriana Franzin/EBC
É pequena a oferta de livros impressos em braile ou com áudio. Além disso, a alfabetização no método é mais complexa e lenta que no modo convencional. Mas não é preciso saber ler nem ter livros adaptados para se tornar um leitor. Crianças muito pequenas são capazes de ler histórias de outras maneiras e com outros sentidos, no caso das que não enxergam. Acreditando nessa potencialidade, a escritora Alessandra Roscoe promove leituras para bebês cegos ou com deficiências visuais severas.
Ela usa vários artifícios sonoros, como instrumentos musicais, caixinhas de música, chocalhos e outros instrumentos criados para imitar barulho de chuva, de sininhos; cria ambientes envolventes, espalhando perfume quando fala de flores, por exemplo; oferece objetos para serem manipulados com diferentes texturas e cores, tudo para atrair a atenção dos pequenos. Nas oficinas, esses acessórios saem de dentro de um livro gigante e bem colorido (que também impressiona o olhar de quem tem a visão reduzida).
Além de fazer a leitura com as crianças, a autora de mais de vinte livros infantis, também orienta os pais/mães e professores a estimular o hábito entre as crianças. Segundo ela, as dicas servem tanto para crianças com deficiência quanto para as que não têm:
- atentar para os cinco sentidos: a leitura pode ser uma experiência sensorial quando se experimenta usar sons, objetos para serem tocados, aromas e sabores de dentro do livro;
- permitir que a criança “entre” na história: para isso, é preciso tirar os elementos do livro, fazendo com que ela sinta que faz parte daquele mundo imaginário;
- respeitar o tempo da criança: os bebês têm um tempo de concentração, de atenção, reduzido e não adianta forçar. A leitura tem que ser prazerosa para ambas as partes;
- criar um ambiente propício para a história: um lugar calmo, uma música de fundo, de preferência sentados no chão, sob um tapete e de bom humor;
- sempre ter um livro na mão: porque assim a criança associa aquele momento gostoso, de afeto, de atenção, de carinho dos pais ao prazer que o livro traz.
De acordo com Alessandra, também é muito importante que o adulto conheça a história e leia o livro antes: “Quem está lendo, tem que se apropriar da história porque esse sentimento de intimidade com a história é percebido pela criança”. Ela adiciona que não faz diferença se a leitura é feita à risca ou se há improvisações. “O importante é fazer com que a criança sinta que toda aquela magia está saindo das páginas do livro”, afirma.
Para “tirar” os personagens do livro, a dica é usar o que se tem em casa: “Eu sei que ninguém tem um livro gigante desses em casa. Mas você pode escolher um personagem de um livro e pegar uma meia colorida, por exemplo, para representá-lo. Esse simples recurso faz com que as crianças interajam com a história”.
A mãe do Miguel, de 1 ano e 2 meses, Mariana Pagotto, participou de uma oficina oferecida por Alessandra Roscoe no Centro de Ensino Especial de Deficientes Visuais do Distrito Federal. A experiência a incentivou: “Lá em casa, a gente lê bastante, mas é mais uma brincadeira. Ele nunca tinha prestado atenção em uma história como fez aqui. Agora, eu fiquei com vontade de fazer um livrão desses lá em casa”.
As oficinas e as leituras fazem parte do projeto Festival de Leitura Itinerante do Uniduniler – Todas as Letras, coordenado por Alessandra Roscoe. O evento, que já teve duas edições no DF leva a leitura, com escritores conhecidos e de vários lugares do país, para creches, escolas, asilos, lugares públicos e da periferia de Brasília, tudo de graça, com o objetivo único de promover o hábito da leitura.
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