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Pérolas Negras: haitianos de projeto social são atração internacional na Copa SP
Criado em 30/12/15 22h04
e atualizado em 08/01/16 16h01
Por Gésio Passos
Edição:Edgard Matsuki - Portal EBC
Fonte:Portal EBC
A única equipe estrangeira a disputar a 47ª edição da Copa São Paulo de Futebol Júnior, a Academia de Futebol Pérolas Negras, ou Perles Noires (em francês), trará ao Brasil 23 jogadores haitianos em busca de uma oportunidade no futebol. Para o coordenador técnico da equipe, o brasileiro Rafael Novaes, o time sonha ao menos com uma vitória no torneio, mas pensa em até beliscar uma classificação para a segunda fase. “Os meninos estão doidos para conhecer o país, mas principalmente aprender com os brasileiros”, afirma.
A Copa São Paulo começa no próximo dia 3 de janeiro. A TV Brasil transmite ao vivo o jogo Botafogo-PB x Corinthians-SP na segunda (4), às 19h.
A equipe haitiana surgiu em 2011, como projeto social da ONG brasileira Viva Rio (realiza projetos sociais no Haiti há mais de uma década). A entidade construiu um centro de treinamento na cidade de Bon Repos, nos arredores da capital do país, Porto Príncipe. De acordo com o diretor-executivo da Viva Rio, Rubem César Fernandes, o projeto busca dar uma oportunidade para os jovens haitianos progredirem com o futebol aliado a uma formação cidadã.
O projeto tem a capacidade de atender até 110 meninos e meninas que vivem no centro de treinamento, onde estudam e desenvolvem seus talentos. Eles contam com a estrutura de quatro campos, piscina, academia, salas de aula e alojamento. Rubem César aponta que o projeto tem uma parceria da Federação Haitiana de Futebol, mas é financiado por vários doadores privados que acreditam na formação destes jovens.

O técnico do time, Rafael Novaes, chegou ao Haiti em 2011 e, desde então, acompanha as atividades da academia. Ele explica que a academia surgiu a partir da deficiência de formação de atletas no país, mesmo que o futebol seja o esporte mais popular na região. “A academia veio para diminuir a distância entre o sonho e do poder. Antes os meninos queriam muito ser jogador, mas sem um trabalho de formação de atletas o sonho fica ainda mais distante”, avalia.
Ouça abaixo trecho de entrevista com Rafael Novaes sobre o futebol no Haiti
Novaes explica que como a maior parte da educação no Haiti é privada, os pais veem no projeto uma oportunidade de aliar o ensino com a prática do esporte, exemplo raro para a maior parte da população haitiana. “O processo seletivo geralmente tem 400, 500 pessoas que participam. Infelizmente, não podemos atender a todos e acabamos selecionando 4 ou 5”, afirma o técnico.
O projeto já conseguiu resultados. Alguns jovens já conseguiram bolsas de estudos para jogar futebol nos Estados Unidos e outros se transformaram em profissionais em países próximos, como a República Dominicana. No Brasil, eles tiveram experiências pelas categorias de base do Cruzeiro, Vasco e Botafogo. Atualmente, o jovem Fenelon atua pela equipe de juniores do Boa Vista (Rio de Janeiro) e reforçará a equipe do Pérolas na Copinha.
Ouça abaixo: técnico explica a experiência no futebol feminino

Copa São Paulo
A Academia Pérolas Negras jogará a primeira fase no Grupo 28, que tem como anfitrião o time do Juventus-SP (adversário na estreia no dia 3/1). As partidas serão disputadas no lendário estádio da Rua Javari, no bairro da Mooca na capital paulista. Também fazem parte do grupo o São Caetano-SP e o América Mineiro.
O técnico Rafael Novaes conta que os garotos que chegam para disputar a Copa São Paulo fazem parte de um ciclo, tendo passado por 4 anos de formação na academia. “É a última etapa para eles tentar o sonho e a oportunidade de se transformarem em jogadores e ajudarem suas famílias”, afirma.
Técnico do Pérolas Negras fala sobre os destaques do time
Os haitianos estreiam no domingo (3) contra o Juventus. A segunda partida será contra o América-MG na terça (5). E encerra a participação na primeira fase na quinta (7) jogando com o São Caetano.
A última equipe estrangeira a disputar a "Copinha" foi o Kashiwa Reysol, do Japão, em 2014, que surpreendeu chegando a segunda fase. O Al-Hilal, da Arábia Saudita, támbém foi o convidado em 2010. Outros clubes do México, Alemanha, China e da América do Sul também já disputaram o torneio.
Novos passos
A partir deste ano, o Pérolas Negras passam a ter uma espécie de filial no Brasil. O Viva Rio construiu um novo centro de treinamento na cidade de Miguel Pereira, no interior fluminense. “A proposta é ser uma ponte entre Haiti e o Brasil, dando possibilidade para os jovens de 18 e 19 anos que não tem muitas perspectivas de profissionalização em seu país”, afirma Rubem César. Os jogadores que atuarão na Copa SP já irão ficar no país para disputar outras competições.
O técnico Rafael Novaes fala mais sobre o projeto
Reconstrução do Haiti
Há 11 anos, o país vive sobre tutela da Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti (MINUSTAH), criada pelo Conselho de Segurança da ONU em 2004 após um início de guerra civil em torno da instabilidade política, que gerou conflitos armados por todo o país. Tropas brasileiras lideram o processo de pacificação do país, que teve sua crise agravada com um terremoto de grandes proporções ocorridos em 2010, que devastou o país e deixou mais de 300 mil mortos.
Rafael Novaes fala sobre sua experiência no Haiti
O Brasil passou a ser um dos países que mais recebem imigrantes haitianos. O Ministério da Justiça estima que desde 2010, cerca de 75 mil haitianos entraram no país, sendo que em 2015 foram mais de 20 mil registrados. Em novembro, o governo brasileiro permitiu que 43.871 imigrantes haitianos, que já moravam no país, solicitassem visto de permanência.
Confira o especial da Agência Brasil sobre a reconstrução do Haiti

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