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Marcada pela unidade das diferenças, VII Aldeia Multiétnica se configura como uma escola de troca de experiências e reverência aos povos indígenas

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Jovem guajajara diz que língua nativa é forma de manter identidade

Criado em 11/12/14 12h03 e atualizado em 07/07/16 14h20
Por Vitor Abdala - Repórter da Agência Brasil Edição:Lílian Beraldo Fonte:Agência Brasil

 

A jovem Zahy atende o telefone celular e começa a falar com o pai, que vive a centenas de quilômetros de distância, no Maranhão. A conversa flui em um português perfeito até que ela pede para falar com a mãe. De uma hora para outra, a fala da jovem, moradora de um conjunto habitacional no centro do Rio, torna-se incompreensível.

Naquele momento, a moça volta a suas raízes e usa palavras que aprendeu cerca de duas décadas atrás, quando ainda morava em uma aldeia indígena na região nordeste. Zahy é cabocla, como ela mesma se descreve, filha de homem branco com mulher guajajara. Suas primeiras palavras foram no idioma falado por sua mãe.

Até os 8 anos de idade, Zahy não falava nem entendia o português, apenas o guajajara, idioma da família linguística tupi-guarani. “Meu pai não é índio e foi morar na aldeia. Então, até os 8 anos, ele tinha uma grande dificuldade de falar comigo. Ele só falava português comigo, mas como eu cresci naquela aldeia e não falava português, eu não falava com ele”, conta Zahy.

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E assim também funcionava com suas irmãs paternas, filhas do primeiro casamento de seu pai, que falavam apenas o português. Por decisão da família, Zahy mudou-se aos 8 anos para a cidade de Barra do Corda com a mãe e três de seus irmãos do primeiro casamento da mãe.

“Só aprendi português quando fui para a cidade e comecei a estudar. No início eu tinha bastante dificuldade na escola e chorava por causa disso. Tinha essa dificuldade de não entender. Mas depois aprendi muito rápido. Aconteceu o contrário de antes, quando estava na aldeia e só meu pai falava o português. Na cidade, só eu, minha mãe e meus irmãos falavam [guajajara]”, conta.

Em 2010, Zahy saiu do Maranhão e veio para o Rio de Janeiro. Dentro da segunda maior metrópole brasileira, em meio a milhões de pessoas que só se comunicam em português, a jovem tem poucas oportunidades de usar seu idioma.

“Aproveito [para usar o guajajara] quando falo com minha mãe pelo telefone. Também tenho uma sobrinha e um primo que moram aqui do lado. A gente conversa bastante aqui. Às vezes a gente está no meio de outras pessoas, falando português, e começamos a falar em tupi-guarani [como ela se refere ao idioma guajajara]. É automático”.

Ela conta que, apesar da vida na cidade, ainda se expressa melhor em guajajara do que em português. “A filha da minha sobrinha já fala português desde pequena. Mas também fala o tupi-guarani. Então, ela fala bem os dois idiomas”.

Viver em uma metrópole, no entanto, tem seu preço. Palavras guajajaras que só fazem sentido no contexto cultural da aldeia acabam sendo esquecidas. “Tem algumas palavras que a gente não fala por falta de necessidade de falar. São coisas e situações que têm na aldeia mas que não existem na cidade. Então são palavras que a gente deixa de usar. Às vezes, eu volto para a aldeia, ouço aquela palavra e penso, 'há quanto tempo não escuto essa palavra'”.

Para Zahy, que significa “lua” em guajajara, a língua é o aspecto mais importante de sua cultura e mantê-la viva é uma forma de autoafirmação da identidade indígena. “Não basta você ter um olho puxado, um cabelo liso e conhecer sua cultura. A língua é uma espécie de autoafirmação. As línguas estão sendo extintas e os índios estão sentindo cada vez mais a necessidade de querer lutar para não acabar a língua. A língua é a parte mais importante da nossa cultura”.

Editora: Lílian Beraldo

Creative Commons - CC BY 3.0

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