Darcy Ribeiro articulou resistência ao golpe de 1964

Criado em 31/03/16 14h43 e atualizado em 07/07/16 14h52
Por Leandro Melito / Portal EBC

Brasília - Renomado antropólogo, autor de diversos livros e responsável pela criação da Universidade de Brasília (UnB), Darcy Ribeiro teve um importante papel no governo de João Goulart, derrubado em 1964 por meio de um golpe de Estado. Naquele momento, Darcy era ministro da Casa Civil e tomou uma série de medidas em Brasília para manter o governo.

31 de março

Ainda no dia 31 de março, o general Amaury Kruel, do segundo Exército de São Paulo, antes de apoiar o golpe, pediu a Jango que rompesse com a esquerda e demitisse Darcy e Raul Riff, que era o secretário de imprensa da Presidência.

1º de abril

Já no dia 1º, enquanto Jango tentava garantir o apoio das Forças Armadas por meio de ligações telefônicas, Ribeiro articulava militares leais a Jango dispostos a resistir militarmente. "A tropa que saíra do quartel de Juiz de Fora era formada por recrutas com menos de três meses de caserna. Voltaria correndo para casa se fosse lambida por algumas metralhadoras da aviação fiel ao governo", registrou no livro autobiográfico "Confissões".

Entre as articulações do ministro estavam o brigadeiro Teixeira com aviões prontos no Rio de Janeiro para combater as tropas de Minas Gerais e o almirante Aragão que poderia combater as tropas do governador Carlos Lacerda no Palácio da Guanabara e prender o marechal Castelo Branco. Ambos esperavam autorização de João Goulart para agir. 

O fator decisivo para a opção de Jango não resistir militarmente ao golpe foi a informação sobre o apoio militar oferecido pelos EUA aos brasileiros que participavam da revolução contra o presidente, como lembra Darcy em uma entrevista de 1979. "Assim como ele não quis aderir à direita, assim como ele não quis aderir à esqueda, ele também não quis topar a guerra civil, achou que era melhor sair e voltar dentro da luta democrática".

Jango deixou a sede do governo no Palácio das Laranjeiras e se dirigiu a Brasília. Ribeiro o acompanhou até o Palácio do Planalto, onde se reuniu com os oficiais da Casa Militar. De lá, Jango foi para a Granja do Torto onde escreveu o "Memorial à nação" junto com os ministros Tancredo Neves, da Justiça e Almino Affonso, do Trabalho. O comunicado só foi divulgado nas rádios de Brasília que Darcy havia ocupado. 

Jango embarcou para Porto Alegre em sua última tentativa de articular a resistência junto ao Terceiro Exército e decide que não há condições de resistir. Com ajuda  do prefeito de Brasília, o ministro reuniu mil "candangos" - como ficaram conhecidos os cidadãos de brasília - na platéia do Teatro Nacional com a ideia de ocupar pacificamente o Congresso na manhã seguinte. Mas o golpe avançou também no Parlamento. O presidente da Casa, Auro Moura Andrade, chamou uma sessão para as 11h da noite, que decidiu a destituição de Jango.

A pedido de Tancredo Neves, o primeiro secretário do Congresso ainda realizou a leitura da carta redigida por Darcy que informava que Jango tinha ido para o Sul.

Com a consumação do golpe, Darcy se dirigiu para seu apartamento de reitor da UnB e rumou para o exílio no Uruguai com a ajuda do deputado Rubens Paiva (PTB-SP), que providenciou um avião Cessna de Jango para retirar ele e Waldir Pires de Brasília. Ele volta ao Brasil 

O episódio "Os idos de março" da série O Brasil de Darcy Ribeiro, dirigida por Ana Maria Magalhães e Diogo Dahl e exibida na TV Brasil, aborda a atuação de Darcy Ribeiro como ministro de Jango. Assista: