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Cineastas debatem importância da formação de cineclubes nas escolas

23/09/14 19h28
Maria Paula Abreu
Cineasta Vladimir Carvalho: Estamos revivendo de uma forma extraordinária o sentido e a mentalidade do cineclube nos últimos 10 anos (Matheus Bastos/Campus Online)

Na última segunda-feira (22), o Museu Nacional da República recebeu mais um seminário do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. O encontro tinha como tema cinema nas escolas e prática de cineclubes no Distrito Federal. O bate-papo girou em torno da importância da existência desses grupos e como eles podem ser usados como instrumentos da educação. O público ouvinte era composto em maior parte por educadores, gestores de educação do governo, representantes de associações do audiovisual e jornalistas.

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Mas afinal, o que é um cineclube? O termo se refere a uma organização de pessoas unidas para a apreciação coletiva de obras cinematográficas. Sem fins lucrativos, o objetivo do grupo é fomentar o senso crítico em cada um os participantes por meio de debates posteriores ao filme.

O mediador do seminário foi o coordenador-geral do Festival, Miguel Ribeiro, que também é secretário-adjunto de Estado e Cultura do DF. No palco uniram-se ao secretário a idealizadora do projeto EnCine – Cineclubismo e Educação, Ana Arruda, o representante do colegiado setorial do audiovisual, Adriano de Ângelis, o cineasta e documentarista brasileiro, Vladmir Carvalho, os representantes da União de Cineclubes do DF (UCDF), Pablo Feitosa e Viviane Calazans, o diretor regional de educação do Plano Piloto e professor, Jeferson Paes e o representante da secretaria de educação, Gilmar Ribeiro.

O cineasta Vladmir Carvalho acompanha esses grupos desde a década de 1950. ”Estamos revivendo de uma forma extraordinária o sentido e a mentalidade do cineclube nos últimos 10 anos. Com sorte, o Estado está entendendo essa mentalidade”, explica o cineasta, ao falar ainda que, o que antes eram encontros escondidos do Estado, hoje têm apoio e financiamento do próprio governo.

O representante do colegiado setorial do audiovisual, Adriano de Ângelis, também reforçou que “o audiovisual hoje tem muito mais dinheiro do que sempre teve” independente de como funciona e de quem é ou deixa de ser atendido por esse recurso, considera que só a existência desse fundo de investimento já tem a potência de irradiar ações e efeitos positivos para toda cadeia produtiva do  audiovisual, inclusive para os cineclubes.

O diretor da União de Cineclubes do DF, Pablo Feitosa, lembrou do programa governamental Cine Mais Cultura que incentivou a formação de cineclubes nas escolas por meio da disponibilização de material (equipamentos e obras nacionais) e capacitação dos professores. Pablo foi um dos auxiliares no treinamento dos professores para formação cineclubista e conta que 77 escolas foram beneficiadas com o projeto.

O representante da secretaria de educação, Gilmar Ribeiro, foi de grande importância para a realização de projetos de incentivo aos cineclubes nas escolas, como apresentou o mediador do seminário, Miguel Ribeiro. Gilmar acredita que arte e cultura são peças essenciais na formação do estudante: “O Ensino Médio não pode estar estruturado sem um setor que possa dar conta de apoiar e reunir essa área do conhecimento [a arte]”.

Ao final do seminário, o presidente do Congresso Brasileiro de Cinema Audiovisual (CBC), André Leão, apresentou uma carta e solicitou a assinatura de todos para requisitar a volta da Programadora Brasil, uma central de acervo de filmes nacionais para exibição não comercial – em cineclubes, centros de cultura, escolas e universidades públicas, por exemplo.

 

Ana Arruda reforça: Cineclubismo traz essa possibilidade de descentralizar o acesso ao cinema (Matheus Bastos/Campus Online)

Cinema nas escolas
Organizadora e figura importante de cineclubes do DF, Ana Arruda aproveitou o momento para anunciar o mais novo projeto que coloca o cinema nas escolas, o EnCine – Cineclubismo e Educação, que objetiva ampliar a rede cineclubista do Ensino Médio das escolas públicas do DF, dando sequência ao programa Cine Mais Cultura. O plano é, inicialmente, alcançar 20 escolas com incentivo de bolsas mensais aos estudantes participantes, disponibilizando 40 filmes licenciados, capacitação e acompanhamento ao longo do ano. Na divulgação do projeto pelo facebook, Ana Arruda reforça: “Cineclubismo traz essa possibilidade de descentralizar o acesso ao cinema e incentivar toda uma criatividade no modo de organizar uma sessão, escolher o filme, conduzir o debate – empoderamento aos jovens em todo o DF”.

Os educadores
A professora de audiovisual da Universidade de Brasília, Dácia Ibiapina, é jurada da mostra competitiva do Festival de Brasília e também participou da capacitação de professores da rede pública no projeto Cine Mais Cultura. Opina que é muito importante que se utilize o cinema em seu sentido amplo – reportagem, filme, TV, animação – como linguagem na educação. Dácia acredita que as escolas e as universidades estão atrasadas nesse tema, que deveriam incorporar em seus conteúdos o audiovisual da mesma forma que incorpora a oralidade e a escrita.

A educadora e responsável pela videoteca do Centro Educacional 02 de Taguatinga, Madalena de Melo, estava presente na platéia do seminário. Madalena atua diretamente com os professores,  busca material audiovisual conforme a demanda pedagógica. Conta que o CED 02 de Taguatinga foi uma das escolas beneficiadas pelo projeto Cine Mais Cultura mas que, mesmo com a estrutura para cineclubes, o projeto no centro educacional está parado por falta pessoal para cuidar do grupo. “Por isso vim para cá [o seminário], queremos resgatar esse projeto”.

A falta de pessoal e até mesmo de interesse por parte de alguns alunos foi uma das questões levantadas no seminário pela representante da União de Cineclubes do DF Viviane Calazans. A seminarista considerou importante trazer para debate a problemática de cineclubes já implementados nas escolas, para que, assim, fossem discutidas posteriormente possíveis soluções para a falta de professores capacitados e o desinteresse dos alunos.

Lei de incentivo
Em junho deste ano, foi sancionada pela presidenta Dilma Rousseff a Lei nº 13.006, que torna obrigatória a exibição de filmes de produção nacional nas escolas por pelo menos duas horas mensais de forma a integrar o conteúdo pedagógico. O autor da lei, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), escreve em sua coluna no portal Gazeta News que o projeto possibilita a formação social da criança para um olhar sobre a realidade nacional. Em matéria do Campus Online sobre o festival de cinema especial para crianças, a curadora Luiza Lins também ressaltou a importância da exibição do cinema nacional para os pequenos.

Iniciativa independente
O professor de filosofia do Centro de Ensino Médio 01 de Sobradinho, Gabriel Lima, tem o costume de passar para seus alunos em sala de aula filmes nacionais e internacionais fora do circuito hollywoodiano, com o objetivo de agregar informação ao conteúdo ministrado. Independente dos projetos de incentivo à prática, o professor já considerava os filmes como ferramentas pedagógicas. “Da mesma forma que você pode passar um texto pra ler, [o filme] é algo com uma carga de informação”. A receptividade dos alunos, porém, não é a ideal. Gabriel começou a utilizar o cinema como instrumento por acreditar que o conteúdo seria assimilado de maneira mais fácil e direta, contudo o professor conta que os alunos possuem grande resistência a filmes que não seguem o padrão hollywoodiano: “Eles ficam entediados”. Acredita que falta sensibilidade para reconhecer o cinema não só como forma de entretenimento, mas também como um instrumento cultural capaz de gerar reflexão e debates.

Edição: Thaísa Oliveira - Campus Online*

Supervisão: Ana Elisa Santana

*O Portal EBC e o Campus Online - jornal laboratório de jornalismo da Universidade de Brasília - estão fazendo a cobertura do 47º FestBrasília em parceria, por meio do canal Colaborativo. Clique aqui para ler todas as reportagens da parceria.

 

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