Ato de sem-teto em apoio a “rolezinhos” faz shoppings fecharem em São Paulo

16/01/2014 - 22h45

Daniel Mello
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – Dois shoppings da zonal sul paulistana fecharam as portas no final da tarde de hoje (16) para evitar uma manifestação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). O ato foi feito em apoio aos “rolezinhos” que têm sido feitos, desde dezembro de 2013, por jovens da periferia em centros comerciais da cidade. Os eventos têm sido reprimidos pela polícia e proibidos por decisões judiciais.

Por volta das 17h30, o  Shopping Jardim Sul, que fica na região do Morumbi, foi evacuado e teve todos os acesso bloqueados com grades. Em comunicado, o establecimento disse que tomou medidas preventivas para resguardar clientes e lojistas. O Shopping Campo Limpo informou por nota que fechou as portas às 17h para “manter a segurança de clientes, lojistas e funcionários”. O local foi reaberto às 19h40. O Campo Limpo ressaltou ainda que obteve uma liminar judicial contra o protesto.

Os sem-teto protestaram em frente ao Jardim Sul. Apesar do protesto ter sido pacífico, em um momento houve troca de empurrões com os seguranças que evitavam a aproximação dos manifestantes do prédio.  Segundo a coordenadora estadual do MTST, Ana Ribeiro, o movimento decidiu apoiar os rolezinhos porque entende que os jovens estão reivindicando lazer e cultura para a periferia. “A gente está em uma luta por moradia na periferia, mas isso é uma luta imediata. Tudo que tem relação com a cidadania do povo da periferia a gente apoia”, disse.

Um dos participantes do protesto, o açogueiro Lucas de Jesus disse que foi à manifestação para defender o direitos dos jovens pobres de frequentarem os centros comerciais. “Nós não estamos podendo entrar no shopping. Vários amigos meus já foram barrados”, reclamou o jovem de 18 anos.

Os manifestantes que participaram do ato no Shopping Jardim Sul são, em sua maioria, moradores das ocupações Faixa de Gaza, em Paraisópolis, e Capadócia, no Campo Limpo. No protesto que esteve no Shopping Campo Limpo, os participantes eram moradores das ocupações Vila Nova Palestina, no Jardim Ângela, e Dona Deda, no Parque Ipê, todas na zona sul.

Para o professor de antropologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Alexandre Barbosa Pereira, a repressão policial contra os “rolezinhos” e as decisões judiciais proibindo os encontros fizeram com que os eventos ganhassem repercussão. “Eu acho que a reação desproporcional que teve da polícia, de segmentos da Justiça, que criminalizaram como arrastão, deu a história do 'rolezinho' uma reflexão muito grande. O que acabou com todos esses desdobramentos, de outros movimentos que se dizem indignados”, disse sobre o apoio expressado pelo MTST aos "rolezinhos".

Pereira acredita que o “rolezinho”, um evento que os jovens organizaram como forma de diversão, acabou evidenciando as contradições do Brasil. “Um exemplo como esse revela todas as questões de conflito do nosso país. Questão de classe, cor e raça, geracional”, pontuou. O antropólogo acredita que falta agora ouvir os jovens para entender quais são as suas demandas.

As reações aos “rolezinhos” evidenciam ainda, na opinião do professor, um desconforto das parcelas mais ricas da população com a melhora do poder aquisitivo de outras camadas. “Você tem segmentos da classe média que ficam meio abalados quando veem outra classe social frequentando espaços que antes eram espaços de distinção deles”, disse.

Para o sociólogo João Clemente Neto, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, as manifestações em shoppings estão ligadas à carência de locais para lazer e cultura. “Se você for em alguns lugares, mesmo nos bairros da classe média, você não encontra espaço para isso. Se você pegar a cidade de São Paulo, quantos milhões de jovens e adolescentes nós temos? E os espaços para livre manifestação são minúsculos”, ressaltou o professor.

Edição: Fábio Massalli

Todo o conteúdo deste site está publicado sob a Licença Creative Commons Atribuição 3.0 Brasil. Para reproduzir as matérias é necessário apenas dar crédito à Agência Brasil