Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Em 2013, a Comissão da Verdade do Estado de São Paulo Rubens Paiva promoveu 108 audiências públicas, dando voz principalmente às vítimas da ditadura militar. Entre as histórias que foram contadas por quase 500 testemunhas está a das crianças que foram torturadas ou perderam seus pais durante o regime e a dos desaparecidos na Guerrilha do Araguaia que foram nascidos em São Paulo.
Também começou a investigação sobre a situação das ossadas da Vala de Perus, no Cemitério Municipal Dom Bosco, localizado na capital paulista, onde foram encontrados corpos de indigentes, de vítimas do esquadrão da morte e de presos políticos da ditadura militar, a maior parte deles ainda não identificada.
Mas a comissão também resgatou histórias das pessoas que foram mortas ou ainda se encontram desaparecidas desde a ditadura. Em dezembro, por exemplo, a comissão promoveu uma audiência pública para montar a história do jornalista Luiz Eduardo da Rocha Merlino, morto no dia 19 de julho de 1971, após ter sua perna gangrenada nas dependências do Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operação de Defesa Interna do 2º Exército (DOI-Codi), em São Paulo.
Foi contada ainda a história da madre Maurina Borges, presa e torturada durante o período, embora não militasse ou tivesse qualquer associação com partidos políticos ou movimentos de esquerda. Já uma audiência pública realizada em setembro deu voz à família e aos amigos de Norberto Nehring, militante da Aliança Libertadora Nacional (ALN), morto em 1970. Nessa audiência, familiares de Norberto pediram a mudança de seu atestado de óbito para morte em decorrência de tortura e maus-tratos.
A comissão ainda identificou registros de entrada e saída de pessoas no extinto Departamento de Ordem Política e Social (Dops), em São Paulo, um dos órgãos de repressão da ditadura militar. Por meio desses documentos, a comissão encontrou indícios de uma ligação entre a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o Consulado dos Estados Unidos na cidade e os serviços de repressão, durante a ditadura militar no país. Além disso, foram ouvidos relatos sobre o general Paul Aussaresses, ex-agente do serviço secreto da França, que colaborou com o regime militar no Brasil.
“Embora esses fatos tenham ocorrido há quase 50 anos, as histórias, do jeito que estão sendo contadas hoje, mesmo as mais antigas, têm vários entrelaçamentos. Fizemos audiências com argentinos [sobre a Operação Condor], sobre as cadeias de comando e sobre a estrutura da repressão, que começava no gabinete da Presidência [da República]”, disse o presidente da comissão, o deputado estadual Adriano Diogo.
Como ocorreu com sua equivalente nacional, os trabalhos da Comissão Estadual da Verdade foram prorrogados até o dia 31 de dezembro de 2014. Segundo Adriano Diogo, ainda faltam 60 casos para serem apurados, o que deverá ser feito no decorrer do próximo ano.
Em 2014, a comissão pretende concentrar seus trabalhos nos agentes da repressão e nas cadeias de comando, tentando esclarecer a estrutura da repressão. “Queremos começar a identificar quem são os torturadores, os assassinos, os ocultadores de cadáveres, os médicos legistas”, disse o deputado. Segundo ele, mesmo que essas pessoas não sejam ouvidas, o importante será “contar ao Brasil quem foram essas pessoas”. Sobre as valas no Cemitério de Perus, Adriano Diogo disse que pouco foi feito este ano e que haverá continuidade em 2014.
Na agenda da comissão para o próximo ano também está a proposta de mudança no atestado de óbito de cerca de 160 casos que estão sendo investigados pela comissão. O pedido será feito à Justiça. A comissão também pretende divulgar, no próximo ano, um trabalho de videobiografias de vítimas da ditadura, em que atores interpretam e contam a história dessas pessoas. Segundo o deputado Adriano Diogo, seis vídeos já foram feitos.
Edição: Davi Oliveira
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