Polícia já ouviu 150 pessoas em inquérito que investiga ações violentas em manifestações

12/12/2013 - 22h50

 

Bruno Bocchini
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – A Polícia Civil de São Paulo já ouviu 150 pessoas no inquérito que investiga a ação dos blacks blocs nas manifestações de rua. Nenhum deles, no entanto, foi indiciado. De acordo com o diretor do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), Wagner Giudice, a polícia espera ouvir cerca de 300 pessoas até o fim do ano. Hoje (12), 49 foram ouvidos.

Os convocados para depôr no inquérito são pessoas que foram detidas em alguma das manifestações. Segundo Giudice, a polícia busca elucidar se houve associação criminosa -  nova denominação para formação de quadrilha – nos delitos durante os atos de protesto, como danos ao patrimônio público ou privado. 

“A nossa estratégia é separar quem foi surpreendido porque estava em um movimento legítimo e quem foi lá para fazer bagunça. Esta é nossa missão. Desses 300, nós vamos chegar naqueles caras que, recalcitrantemente, estão participando e não têm nenhum tipo de fundamentação [legítima]”, disse o diretor do Deic.

A polícia pretende, a partir do inquérito, mapear antecipadamente os manifestantes que comenteram ilícitos durante os protestos. “É como se eu pudesse acompanhar uma quadrilha de ladrão de banco desde o momento do planejamento até a execução final. A gente já começa a mapear esse pessoal antes e, se eventualmente acontecer um quebra-quebra, o responsável já está identificado anteriormente”, acrescentou Giudice. Segundo ele, uma das ações propostas será o de obrigar as pessoas envolvidas a se apresentarem à polícia horas antes das manifestações marcadas.

Segundo o representante da Comissão de Direitos Humanos do Sindicato dos Advogados de São Paulo, o advogado, Ramon Koelle, que defende um dos convocados, o inquérito é inconstitucional e tem como objetivo criminalizar as manifestações. 

“É um inquérito absolutamente vago que coloca perguntas que violam absurdamente, como na ditadura, o livre organizar das pessoas. Pergunta-se se as pessoas são filiadas a partidos políticos, se tem e-mail, Facebook, onde os jovens se encontram. É um inquérito que, intimidando as pessoas, visa apenas a investigar como a juventude se organiza, sem objetivos claros, sem objetivo específico. O inquérito viola as garantias constitucionais”, disse.

O advogado questionou ainda a falta de investigação das ações da própria polícia durante as manifestações. “Deveria haver, sim, uma força-tarefa para investigar a ação da Polícia Militar. Para investigar os manifestantes, a Delegacia de Crimes Econômicos e Financeiros [onde parte dos convocados estão sendo ouvidos] parou para fazer isso. Mas não há força-tarefa para investigar os abusos da Polícia Militar, que foram evidentes”, declarou.

Edição: Aécio Amado

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