Marli Moreira
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Sem amarras a uma ideologia ou corrente estética. É assim que se define um dos nomes mais conceituados da arte moderna brasileira: o pintor, desenhista e gravador Antônio Henrique do Amaral, com obras inéditas em duas exposições neste mês em São Paulo. Mas não há como desvincular uma das fases de criação deste artista ao movimento intelectual contra a ditadura militar entre o final dos anos 60 e décadas de 70 e 80.
Em um gesto de irreverência ele levou para as telas em óleo, para as xilogravuras e para outras técnicas de expressão artística a temática da banana. “A série Bananas surgiu da [intenção de] ironia em torno do papel dos generais que achavam que só eles sabiam das coisas e que o povo tinha de baixar a cabeça”, justificou Henrique do Amaral.
Ele tinha apenas 33 anos quando, em 1968, o presidente Arthur da Costa e Silva surpreendeu a nação ao decretar o Ato Institucional número 5 (AI-5 ), considerado um dos maiores golpes dos militares que estiveram no comando do Brasil entre 1964 e 1985. Na época Henrique do Amaral havia deixado de lado a carreira de advogado, depois de ter ingressado no concorrido curso de direito da Universidade de São Paulo, no Largo São Francisco para se dedicar inteiramente ao mundo das artes.
Hoje, aos 78 anos ele reconhece que a efervescência cultural daquele período era fecunda muito em razão dos anseios por uma democracia. Assim como considera que das recentes manifestações populares possam emergir novos talentos artísticos no país.
Para Henrique do Amaral é muito importante a experiência de viver em liberdade. Como exemplo citou os dez anos vividos em Nova Iorque. “Os artistas norte-americanos não seguem modelos. Eles são os modelos”, disse ele ao dizer que o artista não pode ficar preso a uma ideologia ou corrente estética devendo explorar as várias possibilidades de criação e investigar novos caminhos.
Muitos de seus trabalhos no passado que nunca foram vistos e também obras inéditas mais recente estão sendo apresentados ao público na Pinacoteca de São Paulo, no bairro da Luz, na região central. É uma retrospectiva com cerca de 160 obras das quais 80 em telas e 80 obras sobre papel.
Uma segunda exposição do artista será aberta, no sábado (14), no espaço cultural da Caixa Econômica Federal (CEF), na Praça da Sé, no centro da cidade de São Paulo. Nesta mostra que prosseguirá até 16 de fevereiro de 2014, com o título Caminhos de Sempre serão apresentados em torno de 100 obras, metade delas são criações do passado nunca vistas e também obras inéditas, entre as quais estão as que produziu em 2012, na França. São 32 xilografias, 18 litografias, três matrizes em madeira, 25 mista sobre papel e 35 desenhos de técnica mista.
Embora o artista não se defina como um seguidor desta ou daquela escola no mundo das artes, o curador da mostra, Sérgio Pizoli, lembra que ele já foi apontado como surrealista em seu começo de carreira. “Havia uma certa ousadia em suas gravuras com elementos em que pulavam mulheres, desenhos, monstros e bichos”.
Ele salienta que nesta mostra o público poderá acompanhar as diversas fases das técnicas empregadas na arte gráfica. Antônio Henrique Amaral recebeu os primeiros ensinamentos do mestre em xilografia Lívio Abramo e desenho com Roberto Sambonet, no Museu de Arte Moderna. Em Nova Yorque, lembrou o curador, ele teve a chance de estudar com um dos nomes mais respeitados neste segmento do Japão, no Instituto Pratt Graphic,Shiko Munakata.
Na entrevista que concedeu à Agência Brasil, Henrique Amaral disse ter a expectativa de ver as suas obras percorrer o Brasil. A sua arte está presente nos principais museus e em coletâneas particulares no Brasil e no Exterior.
Um dos endereços em que o talento dele pode ser apreciado é o Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, no Morumbi, zona sul, onde no hall de entrada há um grande painel intitulado São Paulo-Brasil-Criação, Expansão e Desenvolvimento. Nele estão estampados os coloridos desenhos com elementos da floresta em meio a produtos de grande expressão na pauta da exportação agropecuária brasileira como o café, a cana-de-açúcar e o processo de beneficiamentos da matéria-prima.
A mostra na CEF que será aberta às 12h30 de sábado (14) prosseguirá até 16 de fevereiro de 2014, de terça a domingo entre as 9h e as 19h.
Edição: Valéria Aguiar
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