Insegurança e falta de conservação são reclamações de visitantes de cemitérios do Distrito Federal

02/11/2013 - 12h37

Thais Leitão
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Grama alta, lixo acumulado e falta de segurança estão entre as principais queixas de quem costuma ir aos cemitérios do Distrito Federal (DF) para visitar túmulos de parentes. Ao todo, existem no DF seis cemitérios (no Plano Piloto, em Taguatinga, no Gama, em Sobradinho, Planaltina e Brazlândia), onde estão sepultadas 401,3 mil pessoas. Todos são administrados pela concessionária Campo da Esperança. A expectativa é que, juntos, recebam mais de 600 mil pessoas neste Dia de Finados.

A cabeleireira Carla Maria de Almeida, 41 anos, conta que, aconselhada por coveiros que trabalham no Cemitério de Taguatinga, diminuiu as visitas ao túmulo do pai, morto há mais de 20 anos. Com medo de assaltos relatados por funcionários e já tendo visto pessoas usando drogas sobre as sepulturas em épocas de baixa frequência, ela passou a visitar o cemitério, nos últimos anos, apenas na véspera do Dia de Finados, para evitar o tumulto normalmente verificado no feriado.

"Os próprios coveiros nos orientaram a não vir quando não tivesse movimento. Eles sempre diziam que nós éramos muito corajosas, porque é muito perigoso [visitar o local] quando não tem ninguém", disse ela, que estava acompanhada da mãe, a aposentada Ivone de Almeida, 64 anos. "Desistimos de levar susto e agora a gente só vem nesta época. Em outros dias, se não tiver sepultamento, não se vê um vivo por aqui. É muito deserto", acrescentou.

No mesmo cemitério, o funcionário público Valdir Benevides, 48 anos, disse ter se assustado com as condições de conservação. Ele aproveitou a ida ao local para o sepultamento de um conhecido, na última quinta-feira (30), e visitou o túmulo do pai. "O gramado lá da frente, na entrada do cemitério, está mais bem cuidado, bonitinho, mas aqui atrás está feio demais. A grama parece que não é cortada há um tempo, tem muito lixo acumulado, flores secas que ninguém retira. Esperava encontrar condições melhores", disse. Em alguns túmulos próximos ao de seu pai, garrafas PET, copos descartáveis, vasos quebrados e galhos se acumulavam. 

No Cemitério Campo na Esperança, na Asa Sul (Plano Piloto, região central de Brasília), as reclamações se repetem entre os visitantes. Enquanto pintava o cercado em torno do túmulo do marido, a aposentada Iraci Moura, 60 anos, queixou-se do que chamou de "maquiagem" para o Dia de Finados. "Esta semana, está melhor, a grama está cortada e não tem tanto lixo, mas é só fachada, maquiagem. Normalmente, quando venho aqui, o mato chega a cobrir os túmulos, tem flor e vaso abandonado por todo canto, acumulando água, que pode até virar foco de mosquito da dengue. A situação é caótica. Além disso, se a gente precisar de alguma ajuda ou informação, é sempre difícil encontrar um funcionário disponível", disse ela, que visita o local a cada dois meses.

Insatisfeita com a manutenção feita pela empresa responsável, Iraci decidiu se responsabilizar pelo serviço e contratou um jardineiro autônomo para limpar os arredores do túmulo, regar e podar as plantas. "Esses [túmulos] que estão mais bem cuidados é porque as famílias assumiram e contratam um jardineiro para tomar conta. É o jeito, porque não dá para deixar o túmulo de uma pessoa que foi tão importante para a família nesse estado de abandono", lamentou, apontando para uma sepultura rachada perto do túmulo de seu marido. Pouco mais à frente, também havia túmulos com acúmulo de folhas, lixo e vasos de planta descartados.

O jardim que fica na entrada no cemitério apresenta boas condições, com grama baixa e placas de identificação das sepulturas bem conservadas. Ao chegarem ao local, os visitantes também são orientados, por uma placa, a não levar flores em vasos, para evitar a proliferação de mosquitos, especialmente da dengue. Outras placas espalhadas pelo cemitério, no entanto, apresentavam sinais de deterioração.

Para o jardineiro autônomo Márcio Vieira dos Santos, 31 anos, que trabalha no cemitério da Asa Sul há quase duas décadas, o maior problema para quem exerce a atividade é a presença de escorpiões e baratas. "Não sei se tem muito como ser diferente, porque é um lugar onde tem corpo enterrado, mas quem trabalha aqui tem medo das picadas. Eu mesmo já levei de escorpião. É um perigo constante, mas tenho que sustentar meu filho de 4 anos, então tenho que trabalhar", disse ele, que cuida do túmulo de 50 famílias e cobra R$ 50, de cada uma, pelo serviço. A atividade, desvinculada da empresa responsável pelo cemitério, inclui manutenção de jazigos, limpeza dos arredores do túmulo, rega e poda das plantas.

Situação semelhante foi relatada pelo também jardineiro autônomo José de Souza Oliveira, 43 anos. "Eu tenho muitos colegas que já foram picados por escorpião aqui. A gente trabalha com medo, mas tem que sobreviver", disse ele, que reclamou, ainda, da falta de água. "Para fazer o nosso trabalho e regar as plantas, por exemplo, a gente tem até que comprar [água de] caminhão-pipa", disse.

Já no Cemitério de Sobradinho, o servidor público Paulo Diniz disse não ter reclamações relativas ao local. Ele aproveitou a última quinta-feira (30) para visitar antecipadamente o túmulo do pai e de dois irmãos. "Eu não tenho nada a questionar. Não sei como é lá para o final, mas aqui na entrada é tudo bem tranquilo, até porque venho e já vou embora, não fico muito", contou.

A concessionária Campo da Esperança informou, em nota, que faz manutenção dos cemitérios diariamente, o que inclui serviços de irrigação, adubação, limpeza das placas de identificação das sepulturas, recolhimento de lixo e corte da grama, principalmente nas áreas consideradas novas. Nas partes antigas, o serviço de manutenção é feito nas calçadas e nos gramados entre os túmulos. De acordo com a empresa, os túmulos com jardins e adornos devem ser cuidados pelos proprietários, podendo haver intervenção da concessionária apenas com autorização da família. A Campo da Esperança também negou que haja "maquiagem" nos cemitérios em razão do Dia de Finados, alegando que a rotina diária de serviços foi mantida. Duas vezes por ano, são pintados os meios-fios e as placas de identificação e a cada seis meses é feita dedetização. O cronograma desses serviços é ajustado para ocorrer próximo às datas de maior circulação nos cemitérios.

Em relação à segurança, a empresa destacou que, por ocuparem área pública, os cemitérios não podem ter o acesso restrito, mas ressaltou que, quando alguma movimentação estranha é percebida pelos funcionários, a polícia é acionada. Ainda segundo a concessionária, equipes com seguranças desarmados trabalham em todos os cemitérios 24 horas por dia. Além disso, há câmeras de vigilância instaladas nas áreas onde há construções.

Edição: Juliana Andrade

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