Antropóloga argentina diz que desaparecimento como política de Estado ainda continua

30/10/2013 - 18h07

Flávia Albuquerque
Repórter da Agência Brasil

São Paulo - A antropóloga argentina Pilar Calveiro falou hoje (30) sobre o desaparecimento forçado como política de Estado em audiência pública da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo Rubens Paiva. Pilar é professora e pesquisadora na Universidade Autônoma de Puebla, no México, onde se exilou durante a ditadura militar argentina nos anos 1970.

Pilar veio ao Brasil para lançar o livro Poder e Desaparecimento: Os Campos de Concentração da Argentina. Na obra, ela traça uma anatomia da repressão da ditadura em seu país e defende que o “poder desaparecedor” ou o desaparecimento forçado como política repressiva ainda existe.

Segundo a antropóloga, no mundo atual ainda há reflexos das violações feitas no período da ditadura, e mesmo os desaparecimentos forçados continuam ocorrendo, principalmente em situações como guerras figuradas pelo terrorismo e contra o crime organizado. “Nesses dois cenários se cometem diversas violações de direitos dos cidadãos”.

Pilar ressaltou que é importante acabar com a impunidade, porque quando ela existe, há permissão para que as violações dos direitos sejam repetidas. "Na medida em que há menos compreensão e menos processamento da impunidade, é mais difícil chegar às instâncias de responsabilidade legal de quem violou os direitos. Por isso, é importante levar os responsáveis à Justiça, porque isso abre uma porta não só para as vítimas, mas para toda a sociedade”.

Para Rosa Cardoso, integrante da Comissão Nacional da Verdade, o depoimento de Pilar sobre desaparecimento forçado na Argentina também remete a uma realidade do Brasil, mesmo que não tenha sido na mesma quantidade. “O próprio Ato Institucional 5, quando privou a sociedade brasileira de habeas corpus, concedeu [ao Estado] o direito de fazer prisões ilegais, levando a um número grande de desaparecimentos”.

Rosa destacou que os desaparecimentos ainda ocorrem no Brasil e deu como exemplo o caso do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza. “Por isso, a Comissão Nacional da Verdade quer abrir também essa discussão, afinal foi criada exatamente para isso, para fazer um caminho entre uma situação de autoritarismo e uma situação de democracia. Por isso, temos que relacionar as torturas do passado com as do presente”.

Edição: Davi Oliveira

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