Farc ameaçam divulgar detalhes de negociação de paz com governo colombiano

26/09/2013 - 21h39

Leandra Felipe
Correspondente da Agência Brasil

Bogotá - Uma carta enviada pelo chefe máximo das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), Timoleón Jiménez, conhecido como Timochenko constrangeu o governo colombiano. Na carta, direcionada ao presidente colombiano, Juan Manuel Santos, e revelada nessa quarta-feira (25), Timochenko ameaça revelar detalhes da negociação em Havana, e reclama de “imposições unilaterais” do governo, no processo.

“Diante da grande ofensiva discursiva e midiática, contra nós e contra o que ocorre na mesa [negociadora em Havana], os delegados negociadores vão divulgar um relatório, com o propósito exclusivo de que o país e o mundo conheçam a verdade do que ocorre. Eu decidi autorizar que nossos representantes elaborem o informe, porque temos uma grande responsabilidade perante o povo e tanta retórica faz mal, Santos”, ameaçou falando diretamente ao presidente.

A carta de Timochenko provocou reações no governo, que esta semana está em recesso. O negociador-chefe, Humberto de la Calle, respondeu hoje (26) a carta de Timochenko, ao dizer que a reação das Farc é “francamente incompreensível” e mencionou que desde o começo do processo de paz, ambas as partes haviam feito um acordo sobre a confidencialidade do que vem sendo negociado na mesa.

“Para o governo, a suposta revelação não constitui nem pode constituir uma ameaça”, disse la Calle, em uma entrevista coletiva em Bogotá. Mesmo assim, ele disse que a atitude constrange a mesa. “O que mais nos incomoda é que o governo segue fiel à agenda e não se desviará”, declarou o negociador-chefe.

Na carta, Timochenko voltou a criticar o Marco Jurídico para a Paz e o projeto de referendo para avaliar o processo, que está no Congresso colombiano. Para ele, “cada gesto de reconciliação” das Farc é assumido por Santos como produto de uma derrota militar da guerrilha”.

As negociações entre as Farc e o governo colombiano foram iniciadas em novembro do ano passado, mas sem o cessar fogo. O chefe máximo das Farc também questionou as palavras do presidente quanto à necessidade de acelerar o processo, sob o argumento de que os colombianos poderiam se cansar.

“[Santos] pressiona com o conto de que o tempo e a paciência dos colombianos se esgotam, mas os protestos e marchas demonstram que isso é certo, mas não no sentido que indica o presidente. Os problemas e a inconformidade continuam vivos”, disse.

A mesa de negociações avalia, desde maio, o segundo ponto da agenda predeterminada, a participação política dos membros das Farc, após firmado um acordo pelo fim do conflito. As eleições presidenciais estão marcadas para maio do ano que vem, em um cenário complexo, em meio à quarta tentativa de chegar a paz com a guerrilha, pela via negociada.

Para analistas políticos colombianos, embora as eleições estejam próximas, é importante que o processo seja bem-sucedido para que Santos tenha chances de ser reeleito. Em uma pesquisa revelada hoje, o presidente teria pouco mais de 24% das intenções de votos, à frente dos três pré-candidatos. Por outro lado, 77% dos entrevistados responderam não ser favoráveis à sua reeleição.   

Edição: Fábio Massalli

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