PF e Polícia Civil do DF fazem exumação de restos mortais que podem ser de líder camponês

24/09/2013 - 16h31

Thais Leitão
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Uma equipe de peritos da Polícia Federal e da Polícia Civil do Distrito Federal faz desde a manhã de hoje (24), no Cemitério Campo da Esperança, a exumação dos restos mortais que podem ser do líder camponês maranhense Epaminondas Gomes de Oliveira. Ele foi membro do Partido Revolucionário dos Trabalhadores (PRT), organização derivada da Ação Popular, e morreu aos 68 anos, sob custódia do Exército, em 20 de agosto de 1971.

De acordo com os peritos, o procedimento é complexo porque sobre a cova, identificada por membros da Comissão Nacional da Verdade, que coordena a exumação, nasceu um pé de pequi. A equipe escorou a árvore em outras próximas para evitar a danificação. Todo o trabalho, autorizado pela família, está sendo acompanhado por dois netos do camponês e só deve ser concluído, segundo os peritos, no fim do dia.

Segundo um dos netos do camponês, Epaminondas de Oliveira Neto, a família foi informada por autoridades da época que ele havia morrido em Brasília, estava enterrado em um cemitério da cidade e que, caso desejasse, deveria buscar o corpo. Ao mesmo tempo, conforme Epaminondas Neto, exigiram que a abertura da urna só fosse feita depois de cinco anos. No atestado de óbito, apresentado por ele, consta que a morte foi em decorrência de anemia e insuficiência renal.

"[Essa versão] nunca convenceu a família. Ele foi preso no Maranhão enquanto estava trabalhando, secando um poço. Uma pessoa que estava junto com ele [no momento em que morreu] nos contou que ele foi espancado e torturado até a morte porque não abriu mão de seus ideais comunistas", disse.

Epaminondas Neto descreveu o avô como "um trabalhador pobre que não usava armas, não praticava nenhum ato de violência e sem estrutura para ser um guerrilheiro". Caso se comprove que a ossada enterrada no local é do camponês, a família pretende levá-la para o Maranhão e fazer um novo sepultamento.

O gerente de projeto da Comissão Nacional da Verdade, Daniel Lerner, explicou que só será possível saber se os restos mortais são mesmo do camponês em 20 dias. "Para isso, será necessário colher material genético dos filhos de Epaminondas que estão no Maranhão, porque aqui só tem os netos e a chance de acerto é maior se forem comparados os materiais dos filhos", explicou.

Ele lembrou que, na semana passada, a equipe responsável pela exumação se reuniu no local para identificar, com a ajuda do equipamento Ground Penetrating Radar (GPR), que detecta restos humanos sob a terra, onde estava a possível ossada de Epaminondas. A Comissão Nacional da Verdade constatou, após ouvir o depoimento da viúva de Epaminondas, Avelina Cunha da Rocha, que o verdadeiro local de enterro do líder camponês não coincidia com o indicado no documento oficial apresentado à família.

O perito médico legista do Instituto de Medicina Legal da Polícia Civil do Distrito Federal Aluísio Trindade Filho explicou que, após encontrados os restos mortais, todo o material será analisado no laboratório de antropologia da instituição. Ele acredita que os primeiros resultados, incluindo a possível constatação da prática de tortura, serão conhecidos em até três meses.

"Vai depender do que encontrarmos e das condições em que o corpo foi sepultado, se em saco plástico, se houve algum método de conservação. Uma vez que se encontre, muita coisa pode ser dita, já que podemos encontrar vestígios de eventuais traumatismos ou enfermidades", disse, acrescentando que, para isso, os peritos também analisarão toda a terra em volta da ossada. "Dessa forma podemos encontrar, por exemplo, um projetil", destacou.

Presente ao início dos trabalhos de hoje, o coordenador da Comissão da Verdade e do Grupo de Trabalho Graves Violações de Direitos Humanos (Mortos e Desaparecidos), José Carlos Dias, lembrou que todas as informações apuradas pela comissão integrarão o relatório que deverá ser entregue à presidenta Dilma Rousseff até maio de 2014. Ele disse que, diante do grande volume de trabalho, o prazo pode ser prorrogado.

"Há uma possibilidade de prorrogação por seis meses para conclusão dos trabalhos. Ainda há muito a ser feito porque estamos trabalhando com 40 anos de distância. Mas estamos coletando depoimnetos, analisando documentos no Brasil e no exterior para peparar o relatório e apresentar as recomendações", disse.

 

Edição: Carolina Pimentel

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