Ex-companheiros de movimento estudantil lembram luta de Honestino Guimarães pela democracia

20/09/2013 - 21h03

Luciano Nascimento
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Durante a cerimônia que concedeu a anistia política ao líder estudantil, Honestino Guimarães, políticos, ex-companheiros de militância e líderes estudantis ressaltaram a personalidade democrática do ex-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), que desapareceu após ter sido preso por agentes da ditadura militar em outubro de 1973.

"O Honestino era uma liderança que se afirmou muito na política estudantil pela capacidade de tolerância, de ouvir e respeitar o outro. Essas características são que lhe valeram este respeito e a aceitação que ele tinha em todas as correntes políticas", disse o secretário de Educação Superior do Ministério da Educação, Paulo Speller.

Speller foi contemporâneo de Honestino no movimento estudantil na Universidade de Brasília (UnB) e chegou a ser preso com ele pela atuação política. "Durante a ditadura, você vai ter uma figura carismática e que pregava o diálogo, que é próprio do regime democrático e chega a ser um contraponto dessas figuras que encontramos hoje e que têm o perfil contrário", disse Speller. "O exemplo de tolerância de Honestino mostra que temos um longo caminho a percorrer na consolidação da democracia", complementou.

"O dia de hoje é para a gente se orgulhar das lutas das gerações passadas que contribuíram para a gente ter um ambiente mais democrático atualmente. O exemplo do Honestino serve para a gente refletir sobre o aprofundamento da democracia no país e para repudiar os restos da ditadura que ainda se encontram, por exemplo, no Congresso", disse a atual presidenta da UNE, Vic Barros.

O desaparecimento de Honestino Guimarães foi o primeiro caso analisado pela Comissão da Verdade da UNE. "É fundamental o resgate da memória e da verdade. É fundamental apresentar ao povo brasileiro os acontecimentos daquela época", disse Vic Barros.

Honestino foi preso no Rio por agentes do Centro de Informações da Marinha (Cenimar), em outubro de 1973, quando desapareceu. Tinha 26 anos. Em junho, a entidade lançou a campanha "Onde Está Honestino?" "Nós [estudantes] fazemos parte de uma geração que nasceu em um ambiente democrático e sem repressão, muitas vezes é difícil ter noção exata do que acontecia naquele período", ponderou. 

O ex-reitor da UnB e presidente da Comissão Anísio Teixeira da Memória e Verdade da instituição, Roberto Aguiar, lembrou que após o golpe militar, a universidade passou a sofrer fortes perseguições do regime, o que resultou no afastamento de mais de 200 docentes. Aguiar lembrou que o movimento estudantil liderado por Honestino, quando foi presidente da Federação dos Estudantes da UnB (Feub), buscava resgatar o projeto emancipador concebido para a universidade. "O Honestino e todos os que sofreram a opressão e repressão estão carentes de reconhecimento e de desculpas", disse.

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Marcus Vinicius Furtado Coêlho, disse que a melhor maneira de homenagear o ex-estudante de geologia da UnB é continuar a luta democrática e defendeu a realização de uma reforma política com financiamento público das campanhas, para que o Brasil consiga a "anistia do voto". "Precisamos excluir as empresas deste financiamento, pois quem financia vai querer cobrar depois. Precisamos voltar a fazer política com ideias e não com grande recursos de dinheiro", defendeu.

O jornalista Jarbas Silva Marques, amigo de Honestino na UnB, viu o líder estudantil pela última vez no Rio de Janeiro, quando ele vivia na clandestinidade. Marques vai depor na Comissão da Verdade da UnB. Ele lembrou que o amigo era tranquilo e que sempre prezava o diálogo. "Era uma das figuras mais serenas que você encontrava sob aquelas condições de pressão, por isso o gesto de desaparecimento é imperdoável, "disse.

A deputada federal Érika Kokay (PT-DF) disse que para avançar na democracia é preciso antes fazer o luto da ditadura e que o caso de Honestino serve para fazer esta reflexão. "Precisamos fazer este mergulho na história, quando o Brasil foi arrancado do povo brasileiro e fazer este luto, para identificar os pedaços da ditadura que permanecem hoje no nosso cotidiano", disse.

 

Edição: Carolina Pimentel

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