Vinícius Lisboa
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A Coordenadoria de Polícia Pacificadora, da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PM-RJ), trocou hoje (6) o comando de 25 das 34 unidades implantadas em favelas da capital desde 2008. Na cerimônia em que nomeou os novos oficiais, o coronel Frederico Caldas, coordenador-geral das unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), defendeu a medida como uma forma de dar mais dinamismo ao policiamento e destacou que é a primeira mudança ampla de comando desde o início do programa.
"A ideia é dar uma dinâmica diferente e até apresentar um desafio. O que a gente percebe é que os comandantes são muito jovens, e jovem gosta de desafio. Muitos estavam no comando de UPPs há bastante tempo, e a gente percebeu neste primeiro mês [em que Caldas está no comando] a necessidade de fazer algumas mudanças. Alguns policiais já estavam ali há três anos e acabavam não tendo mais uma visão critica e o estranhamento necessário", disse o coronel, ao explicar por que nove permaneceram nos postos: "A maioria dos que ficaram é policial que tinha assumido há muito pouco tempo, e sequer tinha tido a oportunidade de ter o seu trabalho avaliado. Em outras [situações], por ter um trabalho consolidado, não seria recomendável mudar".
Caldas negou que as mudanças tenham sido influenciadas diretamente por denúncias de excessos cometidos por policiais de UPPs, como no caso do pedreiro Amarildo de Souza, desaparecido desde o dia 14 de julho, após ser levado por PMs para averiguação na unidade da Rocinha. Mas o coronel reconheceu que a situação do comandante dessa unidade, major Edson Santos, tinha se tornado insustentável:
"Esses casos foram emblemáticos, mas não tiveram uma influência direta na movimentação. Quando eu assumi, no primeiro dia, já tinha a decisão de solicitar ao comando da Polícia Militar que substituísse o major Edson. Ele é um oficial brilhante, que fez um excelente trabalho. A questão do Amarildo e essa dúvida toda que repousa sobre a ação dos policiais, por que ele foi levado para a base da UPP, sobrecarregou e deixou o major Edson numa situação insustentável. Mas não se trata de incriminá-lo. Ele é honesto, íntegro, e o desgaste que teve foi pela postura intolerante com tráfico e com o crime", destacou o coordenador-geral.
O coronel, que está desde 8 de agosto no comando das UPPs, prometeu ainda que será implacável com desvios de conduta, e disse que orientará os policiais a serem mais seletivos nas abordagens: "Pretendo intensificar o treinamento para que os policiais tenham um rendimento melhor. Uma questão que vou exigir muito deles é o respeito com os moradores. É preciso que o policial tenha realmente a convicção da necessidade de fazer uma abordagem, porque, muitas vezes, de uma abordagem acaba surgindo um problema interpessoal e de conflito, provocado pela própria inabilidade do policial em atuar", disse Caldas, que anunciou um reforço de efetivo da 8ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar, para as áreas de inteligência e correcional.
Caldas pediu aos comandantes que cuidem dos policiais com respeito, para que eles transmitam esse valor aos moradores. Dos policiais, ele exigiu que sejam honestos, gentis, solidários e que primem pelo diálogo.
Entre as unidades que tiveram troca de comando está a da Rocinha, que receberá a major Priscilla Azevedo, que já havia comandado a UPP do Morro Santa Marta, a primeira do projeto. Priscilla deixa o cargo de coordenadora de Projetos na Secretaria Estadual de Segurança Pública para assumir a segunda UPP.
"Peço que a comunidade tenha confiança na Polícia Militar. Me dediquei por muitos anos no Santa Marta a melhorar a vida das pessoas que realmente precisavam de nós, e eles podem ter certeza de que eu não vou fazer diferente na Rocinha", disse, depois de ser homenageada pela menina Beatriz, de quem se tornou madrinha no período em que atuava na comunidade da zona sul do Rio.
Edição: Juliana Andrade
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