Gilberto Costa
Correspondente da Agência Brasil/EBC
Lisboa – Pelo segundo ano consecutivo, os salários pagos pelas empresas em Portugal diminuíram. A queda é “devido ao efeito da substituição de colaboradores [empregados] contratados com níveis salariais mais baixos para as mesmas funções”, aponta pesquisa de mercado feita pela consultora norte-americana Mercer, com sede em diversos países de todos os continentes, inclusive Brasil e Portugal.
A redução real dos salários em Portugal ocorre “em todos os grupos funcionais”, especialmente em atividades como direção-geral e administração (-4,94%) e nos postos comerciais e de vendas (-1,48%). De acordo com Tiago Borges, responsável pelos estudos de mercado da Mercer em Portugal, assiste-se no país “uma política muito conservadora relativamente aos incrementos salariais em toda a estrutura das empresas”.
A pesquisa – relativa a 114.526 postos de trabalho em 300 empresas sediadas no país, revela que quase um terço das companhias congelaram o salário nos últimos anos. Com o salário inalterado e os preços subindo, o poder de compra do trabalhador caiu. Dados do Banco de Portugal revelam que no ano passado, a taxa de inflação retirou 2,8% do poder aquisitivo; e em 2011, 3,6%.
Além da ligeira inflação, a contenção dos salários se dá em contexto de recessão e de desemprego. Ao final de junho, conforme números oficiais revelam, havia mais de 886 mil pessoas desempregadas, taxa de 16,9% da população economicamente ativa (quase 20% na região metropolitana de Lisboa).
A maioria das empresas (65%) ouvidas pela pesquisa da Mercer pretende manter o número atual de empregados até o final do ano. “Ainda assim, uma percentagem relevante de organizações (18%) manifestou intenção de reduzir o seu quadro de pessoal”, assinala o estudo. Para 2014, a estimativa é de que 13% das empresas reduzam seu quadro de pessoal.
Nos dois últimos anos, a recessão sobre o Produto Interno Bruto foi -1,6% e -3,2%, o que contribuiu para a paralisação de um quarto da capacidade produtiva das indústrias e reforçou a insolvência de empresas (5,4 mil até março) e das famílias (687 mil até junho), conforme dados compilados pela Fundação Francisco Manuel dos Santos.
Para aumentar o poder aquisitivo das famílias, a Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP) anunciou ontem (4) que vai iniciar uma campanha por aumento salarial de 3% no próximo ano e que o salário mínimo em Portugal suba para 515 euros (cerca de R$ 1,6 mil), 30 euros a mais do que os atuais 485 euros, valor congelado há dois anos.
O Fórum Econômico Mundial também divulgou ontem que Portugal caiu duas posições no ranking mundial de competitividade e ficou em 51º lugar, cinco posições à frente do Brasil, em um universo de 148 países.
Para Tiago Borges, a contenção dos salários poderá repercutir em breve no índice de competitividade de Portugal. “Não tendo autonomia cambial por estar na zona do euro, a contenção de salários é uma forma de baixar custos de produtos e serviços e, com isso, aumentar a capacidade de exportação”, explicou Tiago Borges à Agência Brasil.
Segundo o especialista, os sindicatos portugueses têm visão oposta à dos credores do programa de ajustamento econômico. Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e a Comissão Europeia, que formam a Troika, são contrários a aumento de salários por temer diminuição de competitividade e aumento de custos e do desemprego. Por outro lado, a CGTP assinala que o país já tem um dos níveis salariais mais baixos da Europa. “São visões distintas que precisam ser contrabalanceadas”, assinalou Tiago Borges.
Edição: Denise Griesinger
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