Grupo que investiga repressão militar a trabalhadores avalia documentos e define cronograma

03/09/2013 - 20h16

Flávia Albuquerque
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – O Grupo de Trabalho Ditadura e Repressão aos Trabalhadores e ao Movimento Sindical, formado pela Comissão Nacional da Verdade (CNV) e pelo Coletivo Sindical, definiu hoje (3), na capital paulista, seu cronograma de ações. Na reunião, foram também avaliados documentos sobre violações dos direitos trabalhistas e sindicais durante a ditadura militar (1964-1985), entregues ao grupo na semana passada pelo Ministério do Trabalho e Emprego.

A advogada Rosa Cardoso, da CNV, disse que o material não contém nenhuma informação espetacular e ainda não foram avaliados todos os documentos, mas ressaltou que os papéis entregues à comissão comprovam cassação de trabalhadores, intervenção nos sindicatos e repressão à greve. Segundo Rosa, o grupo acredita que ainda encontrará informações sobre as empresas privadas e outras entidades que colaboravam, de alguma maneira, com a ditadura.

“Achamos que, a partir daí, poderemos montar um painel muito informativo e rico sobre a repressão ao movimento sindical. Havia uma capilarização profunda dos órgãos de repressão aos trabalhadores, e isso era informado o tempo todo ao Ministério do Trabalho e Emprego. Estamos acessando também o arquivo com o nome de trabalhadores que pediram anistia”, informou Rosa Cardoso.

San Romanelli Assumpção, que assessora o grupo de trabalho na parte de pesquisa, disse que os documentos entregues pelo Ministério do Trabalho estão bem conservados, mas que os que foram encontrados em depósitos, não, por terem ficado em caixas que não estão numeradas ou têm identificação externa. “Esses documentos estão sendo fotografados, mas, como não há luz nos depósitos, a qualidade não é perfeita. Há ainda montanhas de caixas jogadas, e não sabemos como está o conteúdo delas."

Segundo a pesquisadora, o Arquivo Nacional orientará o Ministério do Trabalho para um processo de descontaminação e identificação sumária. "Depois disso, [os documentos] podem ser digitalizados”, explicou. O grupo de trabalho espera finalizar, até maio do ano que vem, um relatório sobre esses documentos. "Parte dos papéis deve estar contida nas investigações, o que, de qualquer maneira, é uma conquista muito grande para os historiadores e sociólogos do trabalho”, destacou San.  

O cronograma definido na reunião desta terça-feira inclui a realização de dois atos nacionais no mês de outubro: um ato, no dia 1º, sobre o golpe militar, e outro, no dia 7, para lembrar os 50 anos do Massacre de Ipatinga – um confronto entre operários da Usiminas e soldados do Exército, que deixou pelo menos 30 mortos e cerca de 3 mil feridos. Em novembro, haverá ato público em Santos, para lembrar as lutas dos trabalhadores nesta cidade paulista. Osasco (SP) também será palco de manifestação, em data a ser definida.

Edição: Nádia Franco

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