Protesto na Avenida Paulista marca encerramento do Encontro Internacional da Marcha das Mulheres

31/08/2013 - 19h36

Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – Cerca de 800 mulheres, segundo números da Polícia Militar (PM), participam de uma caminhada pela Avenida Paulista que marca o encerramento do 9º Encontro Internacional da Marcha das Mulheres. O tema da caminhada deste ano é Feminismo em Marcha para Mudar o Mundo.

A caminhada começou às 16h30 no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp) e deverá passar ainda pela Rua Augusta, antes de chegar à Praça da República, no centro da capital, onde haverá uma série de shows, entre eles, da cantora Karina Buhr. A PM calculou o número de participantes antes da chegada de alguns ônibus com manifestantes, que estavam atrasados e que depois se juntaram à caminhada. As organizadoras estimaram a presença de 2 mil mulheres.
 
Durante toda a semana, mulheres de 48 países estiveram reunidas no Memorial da América Latina, na região da Barra Funda, zona oeste da capital. No encontro, elas debateram temas como o capitalismo, o preconceito e o aborto. Segundo Terezinha Vicente, jornalista, ativista e membro da Marcha Mundial de Mulheres de São Paulo, o encontro teve a participação de mais de 1,6 mil mulheres, com cerca de 150 representantes de outros países. “A Marcha Mundial se define como feminista e anticapitalista. Então, queremos mudar o sistema que esta aí. Sabemos que o capitalismo e o patriarcado andam juntos: a discriminação à mulher, o racismo e a lesbiofobia andam juntas com o capitalismo.”, disse ela.

Na caminhada, estiveram presentes mulheres de vários estados do Brasil e de outros países. Carregando bandeiras e vestindo camisetas na cor roxa, as mulheres cantavam músicas com a frase “Se cuida, se cuida, seu machista. A América Latina vai ser toda feminista”. Algumas seguravam cartazes com os dizeres “Não pedimos, exigimos o fim da cultura do estupro. Autonomia sobre nossos corpos e nossas vidas” e “Lugar de mulher é onde ela quiser”.

Perto de um cartaz em que se lia “Mulher com deficiência construindo sua história”, a manifestante Marly dos Santos, conselheira do Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência de São Paulo, participava da caminhada. Segundo ela, que precisa de uma cadeira de rodas para se locomover, as mulheres ainda precisam conquistar “o direito de ser gente”. Para Marly, as mulheres ainda sofrem muita discriminação no trabalho e na política. “As mulheres com deficiência enfrentam muitos problemas hoje principalmente o da violência, dentro da própria casa e na rua. E sem contar a discriminação”, disse. De acordo com ela, as mulheres com deficiência precisam ainda ser vistas pela sociedade, até mesmo pelas próprias mulheres. “Muitas não nos veem”, disse.

Também participou da caminhada a boliviana Alexandra Flores, que veio ao Brasil para participar do encontro. Ela é integrante da Rede Latino-Americana de Mulheres Transformando a Economia. Segundo Alexandra, na Bolívia, assim como em muitos outros países da região, “as mulheres têm que resolver seus problemas sozinhas”.

“Não há políticas concretas de apoio às mulheres”, ressaltou. Alexandra contou que na Bolívia há muitos casos de homicídios contra mulheres e a Justiça do país é muito lenta “para julgar os culpados”. Para ela, outro problema no país é a criminalização das mulheres que fazem aborto. “Há muitas mulheres que morrem a cada dia por não ter acesso a um serviço [médico] adequado”, disse ela. Para Alexandra, os problemas enfrentados pelas mulheres, em todo o mundo, só poderão mudar quando “o Estado assumir políticas que não sejam baseadas na moralidade, mas que respondam à realidade das mulheres”.

Outra manifestante era a indígena da etnia Pataxó Creusa, que mora em Araçuaí, em Minas Gerais. “Hoje estamos aqui pela luta das mulheres, que sempre eram muito reprimidas e hoje são livres”, disse ela. Segundo Creusa, as mulheres indígenas ainda enfrentam muitos problemas nos dias de hoje. “As mulheres sofrem muito preconceito: sobre as terras, sobre os alimentos”, citou. DE acordo com ela, essa situação pode mudar quando “todas [mulheres] estiverem unidas, com um grito só”.

Edição: Juliana Andrade

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