Cigarro não fornece a força para enfrentar a vida, diz psicóloga

29/08/2013 - 18h01

Marli Moreira
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – O que leva uma pessoa a ficar presa à vontade de fumar é a dependência causada por uma das substâncias presentes no cigarro: a nicotina. Mas também está vinculada à carga emocional e aos hábitos, segundo explica a psicóloga Ivone Charran, coordenadora da área de tabaco do Centro de Referência em Álcool, Tabaco e outras Drogas.

“Muitos fumantes associam os atos de ir ao banheiro, de tomar um café ou sentar ao computador ao hábito de fumar. E alguns, por achar que não conseguem lidar com as dificuldades da vida, com os sentimentos, acendem um cigarro, associando a ele [o cigarro] a força que obtém. Então, é necessário retomar para si esta força”, recomenda a psicóloga, defendendo a conscientização dos hábitos que despertam o desejo.

Ela fez as recomendações ao participar da campanha da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo pelo Dia Nacional de Combate ao Fumo, hoje (29), em ação de alerta sobre os riscos do tabagismo. Em um espaço montado na Estação da Luz, próximo às plataformas de embarque e desembarque da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), dentistas, nutricionistas e outros profissionais passaram a manhã dando consultas e orientação aos interessados.

Foi oferecida medição do índice de massa corporal e dadas orientações sobre alimentação saudável. “Muitas pessoas têm medo de parar de fumar e engordar”, explicou Ivone Charran. Foram feitos também exames de detecção de lesões na boca, com suspeita de câncer. Os casos graves foram encaminhados para tratamento em unidades públicas especializadas.

Além disso, quem passou pelo atendimento recebeu folhetos com informações de alerta contra o tabagismo e um kit denominado fissura, composto por porções de cravo, canela, uva-passa, semente de abóbora e casca de laranja seca. O uso das porções é alternativa que, segundo Charran, ajuda afastar o cigarro, porque deixam um gosto forte na boca, que não combina com o tabaco.

Assim que bateu os olhos no cartaz sobre a campanha o aposentado Wanderley Zani, de 69 anos, foi atraído para o local onde fez o exame de monoximetria, equipamento que mede o índice de monóxido de carbono no organismo. Com a mesma técnica utilizada pelo bafômetro, a presença de gás é detectada quando a pessoa sopra um bocal.

No caso do aposentado, o resultado foi 28 partes por milhão (ppm) de monóxido de carbono, que o coloca na categoria do fumante pesado. Nesse tipo de teste, a classificação tem quatro categorias que se inicia pelo não fumante, que vai de 1 a 6 ppm, passa pelo fumante leve (de 7 a 10 ppm), pelo fumante intermediário (11 a 20 ppm) e acima disso, fumante pesado.

“Eu estou aqui mais por causa da minha filha. Ela fuma muito”, relatou ele, e “seria bom encontrar uma maneira de estimulá-la a largar o cigarro”. A orientação que recebeu foi para procurar uma unidade de saúde, a mesma recomendação feita a vários fumantes submetidos ao exame.

“Eu quero parar [de fumar], porque não quero morrer”, afirmou Vitalina Soares Pereira, de 65 anos, nascida em Minas Gerais e moradora de Itapecerica da Serra desde 1989. No teste dela, o resultado do monóxido de carbono foi 15 ppm. Com kit fissura na mão, saiu com a esperança de atingir o objetivo.

Um estudo feito pelo Ministério da Saúde, por meio da pesquisa Vigilância de Fatores de Riscos e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel 2012), indica que a parcela da população brasileira acima dos 18 anos que fuma caiu 20% durante o ano passado. No Estado de São Paulo, a taxa ficou um pouco menor, 17%.

 

Edição: Beto Coura
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