Câmbio atual não reflete fundamentos da economia brasileira, diz economista

24/08/2013 - 17h25

Wellton Máximo
Repórter da Agência Brasil

Brasília – A desvalorização do câmbio nos últimos meses está em níveis irreais e reflete a especulação do mercado financeiro. A avaliação é do sócio da consultoria Austin Rating, Alex Agostini. Segundo ele, a cotação atual do dólar, que encerrou a semana vendido a R$ 2,3534 está distorcida pela turbulência internacional e descolada dos fundamentos da economia brasileira.

“O que está por trás da alta do câmbio é o rearranjo da disputa pela rentabilidade do capital internacional, mas uma desvalorização nesse nível não tem fundamento. Se pegarmos a economia brasileira, do início de maio para cá, vemos que não mudou muita coisa. Os fundamentos da formação da taxa de câmbio estão os mesmos”, disse o economista.

Segundo Agostini, os problemas internos da economia brasileira, com acusações de manobras fiscais e maquiagem das contas públicas, ajudam a empurrar o dólar ainda mais para cima. Ele, no entanto, não acredita que esse seja o principal fator para cotação da moeda norte-americana ter subido 15% em 2013.

“O Brasil acaba sofrendo por desarranjos feitos na área fiscal, mas, se pensarmos bem, o problema no superávit primário [economia de recursos para pagar os juros da dívida pública] vem há tempos. As nossas reservas internacionais continuaram a subir mesmo no período em que a contabilidade do governo passou a ser questionada. O principal motivo é mesmo uma disputa pelo capital internacional, que faz os investidores retirar o dinheiro aplicado no Brasil nos últimos anos”, explicou.

Agostini ressalta que existe um forte componente especulativo por trás da desvalorização não apenas do real, mas das moedas dos países emergentes. Ele reitera que o Federal Reserve (Fed), Banco Central norte-americano, ainda nem começou a retirar os estímulos monetários para a economia dos Estados Unidos.

“É uma série de interpretações de declarações de Bem Bernanke [presidente do Fed] e de diretores da instituição que está provocando instabilidade no sistema financeiro internacional. A própria ata da reunião do Fed [divulgada na última quarta-feira (21)] não informa nem quando o Banco Central americano vai começar a agir. Só diz que pode ser no fim do ano”, declarou Agostini.

Apesar das ações do Banco Central (BC) brasileiro, que anunciou um pacote de intervenções diárias no câmbio até dezembro, Agostini avalia ser impossível prever em que nível o dólar encerrará o ano. “Falar de câmbio agora é como falar de sexo dos anjos. Não dá para projetar nada”, acrescentou.

Ontem (23), a moeda norte-americana fechou com queda de mais de 3% após o anúncio pelo BC das intervenções programadas. No entanto, o professor de economia internacional André Nassif, da Fundação Getulo Vargas (FGV), disse que existe a possibilidade de a medida não dar certo. “Se o Banco Central vender diretamente os dólares das reservas internacionais para conter o câmbio, isso pode aumentar a desconfiança dos investidores de que o Brasil está menos seguro para enfrentar crises externas e ter o efeito inverso, fazendo o dólar subir ainda mais”, alertou.

Desde o fim de maio, o BC vendeu pouco mais de US$ 40 bilhões no mercado futuro. No entanto, a autoridade monetária anunciou que também poderá vender dólares à vista, queimando as reservas internacionais, atualmente em torno de US$ 350 bilhões.

 

Edição: Aécio Amado

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