Polícia cumpre reintegração de posse e famílias são despejadas no centro de São Paulo

20/08/2013 - 20h09

Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – Famílias que ocupavam um prédio no centro da capital paulista tiveram que sair do imóvel hoje (20) por causa de uma ação de reintegração de posse e reclamam que não tem para onde ir. O prédio fica na Rua Florêncio de Abreu, perto da Rua 25 de Março.

Em entrevista à Agência Brasil, o coordenador-geral da Frente Comunitária e Cidadania, Rubens Marcelino, que vivia no prédio há mais de seis anos, disse que as famílias foram surpreendidas com a ação e avisadas "em cima da hora". Segundo ele, os moradores aguardavam, desde o final de julho, o agendamento de uma reunião com as autoridades para definir como e quando se daria a reintegração de posse, que foi determinada pela Justiça Paulista.

“Ontem à noite, eles [Polícia Militar e representantes da prefeitura] falaram que haveria uma reintegração de posse. Mas foi em cima da hora. Não deu para as famílias correrem, procurarem um local, nem nada. Eles estão [hoje] abrindo as portas, quebrando o cadeado e estão jogando tudo [os móveis] para dentro do caminhão, cientes que ficaram de marcar uma reunião para discutir e dar um prazo de 15 dias a 30 dias [para as famílias deixarem o local], o que não foi marcado desde o dia 21 de julho”, disse Marcelino.

Marcelino não sabe para onde as famílias irão. “Não tem endereço e não tem nome. O caminhão está encostando e jogando [os móveis] dentro e não sabe para onde vai. Isso é que é triste para as famílias”, contou o coordenador. Para ele, a ação de reintegração de posse foi um grande desrespeito às famílias. “Eles submeteram as famílias a uma situação degradante em que perdem a cidadania, perdem a integração social, a escola e a creche. Essa reintegração não respeitou ninguém. Foi passando por cima”, acrescentou.

A moradora Gilza Marques de Oliveira, que estava no prédio por mais de seis anos com os filhos e o marido, disse que chegou a deixar o imóvel por um tempo, mas voltou porque o aluguel em outros lugares estava muito caro. “Como aqui pagamos uma taxa simbólica, de condomínio, e moramos perto do trabalho, então voltei. Mas não esperava que eles viessem dessa maneira, sem avisar. Estamos agora de mãos atadas e não temos para onde ir. Queremos uma moradia digna. Não queremos morar de graça, mas queremos poder pagar o aluguel com nosso bolso”, disse.

Segundo o capitão da Polícia Militar, Fernando Ferreira Alves, comandante da operação, a ação de reintegração de posse teve início por volta das 6h da manhã de hoje (20). “No começo, tivemos certa resistência por parte dos moradores, que alegam que não estavam sabendo da ação. No entanto, a liderança do movimento está sabendo disso desde o dia 30 de abril, quando foi feita uma reunião preparatória a respeito dessa ação de imissão de posse. No dia 30 de julho, foi dado um prazo final para eles desocuparem voluntariamente o imóvel, o que não foi feito. Ontem (19), falamos com eles e explicamos a situação", disse o capitão, informando que a retirada dos bens começou às 9h30.

A Polícia Militar e o coordenador-geral da comunidade estimam que, pelo menos, 94 famílias ocupavam o imóvel. “Algumas famílias, que fizeram cadastro, receberam o auxílio [moradia] insuficiente de R$ 900. Foram procurar um quartinho de pensão e não aceitaram porque tinham crianças. A Secretaria Municipal de Habitação deu esse auxílio, que era insuficiente”, disse Rubens Marcelino.

De acordo com o comandante da operação, o prédio pertencia a uma empresa, que faliu. A massa falida foi então arrematada por uma outra empresa, que solicitou a reintegração de posse do prédio à Justiça e foi atendida.

Uma pessoa foi detida durante a reintegração de posse. “Ela foi autuada por exercício arbitrário das próprias razões, uma vez que tentou impedir o trabalho do Corpo de Bombeiros na abertura das portas, avançando contra os policiais. Mas já foi liberado”, disse o capitão da Polícia Militar. Ninguém ficou ferido.

Segundo Alves, os objetos das famílias serão levados para o endereço informado por elas. “Aquelas que não tiverem destino, [os objetos] serão alocados em um depósito”.

Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Habitação informou ter cadastrado 247 famílias que serão contempladas com casas definitivas nos próximos quatro anos e que irão receber auxílio de R$ 900, em cota única. “Trata-se de uma área particular onde o proprietário solicitou na Justiça a reintegração de posse. O prédio é inviável para ser transformado em habitação de interesse social”.

A Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social informou à Agência Brasil que uma equipe do Centro de Referência de Assistência Social (Cras) esteve no local para encaminhar as famílias para abrigos, mas elas optaram em ir para casa de amigos e parentes.

Edição: Carolina Pimentel

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