Brasileiro retido em Londres entra na Justiça para garantir sigilo de dados de equipamentos apreendidos

20/08/2013 - 21h18

Cristina Indio do Brasil
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - Os advogados do brasileiro David Miranda e do jornalista do jornal The Guardian, Glenn Greenwald, entraram hoje (20) na Justiça, em Londres, para impedir o governo britânico de acessar os dados do laptop e dos equipamentos eletrônicos que foram confiscados durante interrogatório de quase nove horas de David no Aeroporto de Heathrow, no domingo (18).

“Estou fazendo o pedido [na Justiça] para dizer que o que fizeram com David foi contra a lei, para proibir que eles usem o material que tomaram, dizer que eles não podem dividir isso com ninguém, nem com os Estados Unidos, e que devolvam tudo imediatamente”, disse Glenn Greenwald, companheiro do brasileiro, em entrevista à Agência Brasil

Segundo o jornalista, os advogados entraram hoje com o processo na Justiça e amanhã (21) eles pedirão urgência na tramitação. Ele avaliou que o desenvolvimento do caso para buscar a retratação do governo britânico está bem encaminhado. “Muito. O processo começa hoje e os advogados são muito bons e acho que está bom”, disse.

Greenwald considerou que, no interrogatório do companheiro, as questões não trataram de terrorismo, o que poderia ocorrer em caso de aplicação da legislação antiterror do país. “Para mim é muito claro que o que eles fizeram foi totalmente contra a lei. Com a lei, eles podem investigar se alguém é envolvido com organização terrorista, mas em momento algum perguntaram sobre isso ao David. Foram perguntas só sobre mim, sobre Laura [documentarista Laura Poitras] e sobre o The Guardian. Acho que os tribunais da Inglaterra vão falar isso”, analisou o jornalista. 

As autoridades britânicas justificam a retenção de David com base na Cláusula 7 da Lei de Antiterrorismo, que permite à polícia local deter qualquer pessoa na fronteira do Reino Unido sem a exigência de apresentar uma causa provável. A lei determina que a pessoa pode ser detida por até nove horas, sem justificativa adicional. David ficou respondendo às questões por oito horas e 55 minutos e depois foi liberado. A legislação define ainda que o detido deve responder a todas as perguntas, mesmo sem advogado presente. A recusa em responder às perguntas, independente dos motivos, ou a falta de cooperação com a polícia são consideradas crime. David foi retido enquanto fazia uma escala do voo de Berlin, na Alemanha, para o Rio de Janeiro, onde desembarcou ontem (19).

O brasileiro foi à Alemanha para entregar documentos a Laura Poitras e trazer material para Glenn Greenwald, que mora com David no Rio de Janeiro. A documentarista e o jornalista denunciaram esquema de espionagem eletrônica do governo dos Estados Unidos, com base em dados e documentos secretos recebidos de Edward Snowden, que prestava serviços para a Agência de Segurança Nacional norte-americana (NSA).

Edição: Fábio Massalli

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