Gilberto Costa
Correspondente da Agência Brasil/EBC
Lisboa – Além de evitar a perda de alimentos que seriam jogados fora, a mobilização social para levar comida a quem tem fome em Portugal aproveita a capacidade de trabalho dos voluntários. “Essa gente ficar em casa sem ajudar também seria um desperdício”, avalia Ana Vara, da Comissão de Distribuição do Banco Alimentar de Lisboa.
Esse é o caso da aposentada Maria Guilhermina Vaz Pinto Moreira, que trabalha na Conferência Nossa Senhora das Graças, em São João do Estoril (Grande Lisboa). “Há uma grande crise, mas há realmente uma grande solidariedade. Nunca houve tanta gente voluntária para trabalhar, nunca houve tanta gente distribuindo comida na rua, à noite, aos sem abrigo. Sempre houve o porta a porta, agora as pessoas vão ter com eles”, assinala Maria Guilhermina que há mais de 20 anos faz trabalho voluntário.
Para Ana Vara, a atuação de pequenas instituições, entre elas algumas paróquias como a de São João do Estoril, é eficiente e permite maior humanização no atendimento porque os voluntários conhecem as famílias e distribuem os gêneros conforme a necessidade.
“Não se resolve o problema, não vamos ter ilusões, mas ajuda. Não estamos aqui para resolver o problema de todos, estamos aqui para diminuir um pouco as dificuldades de cada um”, diz Maria Guilhermina que, além de cuidar do cadastro sigiloso das pessoas atendidas, participa de visitas a quem não pode buscar os alimentos.
“Nós ajudamos 165 famílias, um total de 384 pessoas (dessas, 70 são crianças). Para 22 famílias, levamos a comida em casa”, conta, referindo-se a pessoas idosas, com saúde frágil, e solitárias. “A solidão é tal e qual a fome”, pondera Maria Guilhermina, ao salientar um problema comum de quem precisa das doações de alimento.
De acordo com levantamento feito pela Universidade Católica Portuguesa e publicado em maio passado, 72% das pessoas atendidas pelas doações dos banco alimentares em todo o país dizem se “sentir só”. A maior parte das pessoas apoiadas é formada por mulheres (73%) com idade média de 51 anos e baixa escolaridade (estudou até o 4º ano do ensino fundamental).
Há estrangeiros (inclusive brasileiros) recebendo cestas de alimentos, mas nove de cada dez beneficiários são portugueses. Cerca de um terço diz estar desempregado e 27% são aposentados. Dezessete por cento das pessoas que recebem ajuda dizem “nunca ter sido pobres”.
Edição: Graça Adjuto
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