Paulo Virgilio
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Detentor de um rico acervo de múmias preservadas por meios naturais e artificiais, o Museu Nacional, localizado na Quinta da Boa Vista, na zona norte do Rio de Janeiro, recebe na próxima semana, de terça-feira (6) a sexta-feira (9), mais de 100 especialistas de vários países para o 8º Congresso Mundial de Estudos em Múmias. A importância desse acervo do museu, vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foi o que levou a instituição a ser escolhida para sediar o evento, pela primeira vez feito no Brasil.
As várias abordagens das técnicas de mumificação e da preservação de corpos e tecidos humanos constituem a temática do congresso, de acordo com a arqueóloga Cláudia Carvalho, diretora do Museu Nacional e à frente da organização do evento. “Nós buscamos reunir todas as diferentes áreas do universo de estudos sobre múmias, que é bastante amplo. Vamos ter várias questões relativas à preservação, ao uso de tecnologias de ponta, como tomografias e reconstituições em 3D, a estudos de saúde, de paleoparasitologia [ciência que tem como objetivo primário a identificação de organismos que, provavelmente, afetaram os ancestrais do homem] e de DNA”, explica.
Além de pesquisadores brasileiros, o congresso reunirá especialistas em múmias dos Estados Unidos, do Canadá, Reino Unido, da França, Itália, Dinamarca, do México, Peru, Chile, da Argentina, do Egito e da China. O evento, que ocorre a cada dois anos, teve sua edição anterior em 2011 na cidade norte-americana de San Diego.
Ao longo da história, a preservação dos corpos sem vida sempre exerceu um fascínio especial sobre o ser humano, o que torna as múmias uma grande atração em todos os museus que dispõem desse tipo de acervo. A coleção do Museu Nacional, por exemplo, possui um dos nove exemplares do mundo de uma múmia egípcia do período de ocupação romana (30 a.C. - 642 d.C.), com os dedos da mão e os braços enfaixados separadamente.
O acervo inclui ainda a urna de uma cantora do Templo de Amon, em seu caixão original, fechado, alguns exemplares da América pré-colombiana, além de pequenos conjuntos de múmias brasileiras.
Com essa coleção, a maior da América Latina de múmias egípcias e uma das maiores do mundo em clima tropical, o Museu Nacional oferece a seus pesquisadores um rico material de estudo. Entre os trabalhos que a equipe do museu vai apresentar no congresso estão um estudo antropológico sobre a mumificação das cabeças de Lampião e de Maria Bonita e discussões sobre a prática da plastinação, método de preservação de tecidos humanos para fins didáticos.
Esses estudos refletem, segundo Cláudia Carvalho, a importância da mumificação dentro de um contexto contemporâneo. “É claro que temos uma grande quantidade de trabalhos voltados para os corpos mumificados tradicionais, como os do Egito e da região dos Andes, mas pretende-se também trazer um pouco de discussão sobre múmias mais recentes e sobre a questão da mumificação em si, que é a preservação de tecidos humanos que em condições normais não teriam sido conservados”, diz.
Além dos fins didáticos e científicos, a preservação dos corpos no mundo contemporâneo também pode estar ligada à memória. “Ao longo do século 20, nós tivemos vários exemplos de políticos que foram embalsamados, cujos corpos se preservam, para a visitação pública. Portanto, a questão da mumificação e da preservação do corpo humano perpassa vários momentos da história e chega aos dias de hoje sim”, diz a diretora do Museu Nacional.
Expostas durante décadas no Museu Nina Rodrigues, em Salvador (BA), as cabeças mumificadas de Lampião e Maria Bonita foram enterradas, em 1969, a pedido das famílias dos dois cangaceiros. O estudo que os pesquisadores do museu vão apresentar no congresso busca discutir essa questão, de um ponto de vista antropológico. “O objetivo é entender as perspectivas da época para situar a mumificação desse material e a polêmica da devolução das cabeças à família”, conta Cláudia Carvalho.
O 8º Congresso Mundial de Estudos em Múmias, feito pelo Museu Nacional/UFRJ, tem como correalizadores o Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo(MAE/Usp) e a Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, da Fundação Oswaldo Cruz (Ensp/Fiocruz).
Edição: Fábio Massalli
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