Gilberto Costa*
Enviado especial da Agência Brasil/EBC
Leipzig (Alemanha) – Em Portugal, permanece o impasse político causado pelo pedido de demissão do ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas. O político, que ocupa cargo equivalente ao de chanceler no Brasil, é o principal líder do Centro Democrático Social – Partido Popular (CDS-PP), a segunda legenda de sustentação do governo do primeiro-ministro Pedro Passos Coelho (do Partido Social Democrata – PSD).
Com 24 deputados, o CDS-PP (de orientação conservadora) é o “fiel da balança” que permite ao governo de Passos Coelho ter maioria na Assembleia da República (132 dos 230 deputados). Conforme a Agência Lusa, o primeiro-ministro e o que pediu demissão têm se encontrado constantemente em busca de uma solução para o entrave. Portas pediu demissão por não concordar com a escolha de Maria Luís Albuquerque (ex-secretária do Tesouro) para o Ministério das Finanças, em substituição a Vitor Gaspar.
Portas tenta marcar posição contrária à continuidade da política de austeridade econômica implantada por Vitor Gaspar e acordada com credores internacionais. A avaliação do CDS-PP é que Maria Luís Albuquerque seguirá com rigoroso controle fiscal - programa de cortes de gastos sociais, demissão de funcionários e manutenção da alta de impostos. Além da economia, os políticos se movimentam tendo em vista as eleições autárquicas (regionais) de setembro. Em princípio, as eleições para a Assembleia da República só devem ocorrer em 2015.
A oposição, liderada pelo Partido Socialista (PS), e a principal central sindical de Portugal (Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses - CGTP) querem que o governo se demita ou seja exonerado pelo presidente Aníbal Cavaco Silva, que é do PSD. A intenção do PS, da CGTP e de todos os partidos de esquerda é que sejam antecipadas as eleições legislativas.
Para o economista Jorge Bateria, do blog especializado em política econômica, o desenlace da crise será a ascensão eleitoral do PS (liderado pelo deputado António José Seguro), com o apoio do CDS-PP e algum afrouxamento fiscal obtido após um segundo empréstimo internacional. Ele compara a situação de Portugal à da Argentina no fim dos anos 1990
“Vítor Gaspar saiu porque percebeu que não tem condições políticas para conduzir um ajustamento a ferro e fogo, à maneira de Domingo Cavallo, na Argentina. amarrada ao dólar. Por seu lado, Paulo Portas percebeu, já há alguns meses, que essa política é insustentável. Tudo ponderado, decidiu que era chegado o momento de abandonar o navio até porque a nova ministra [Maria Luís Albuquerque] não representa qualquer mudança na política econômica. No fundo, Portas concorda com [António José] Seguro. É preciso tempo para conseguir um equilíbrio nas contas públicas que seja apoiado por crescimento econômico”, escreveu o especialista no blog.
Hoje, Cavaco Silva se reúne com economistas para discutir o fim do ajustamento econômico que era previsto para junho de 2014. Enquanto isso, Passos Coelho e Paulo Portas esperam que o CDS-PP adie por duas semanas a reunião do Conselho Nacional da legenda, que poderá selar a saída definitiva do partido do governo.
*O repórter está em Leipzig a convite da Confederação Nacional da Indústria
Edição: Graça Adjuto
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