Akemi Nitahara
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – Quatorze times de comunidades removidas ou ameaçadas de remoção para as obras de preparação da cidade para os grandes eventos esportivos participam hoje (15) do torneio Copa das Remoções, promovido pelo Comitê Popular Rio Copa e Olimpíadas. De acordo com o representante do comitê, Renato Cosentino, a ideia é fazer um contraponto ao início da Copa das Confederações e, ao mesmo tempo, reunir as comunidades afetadas.
“Fazer isso no dia da estreia da Copa das Confederações tem a importância de mostrar o outro lado, que fica invisível nesse processo de preparação das cidades para os grandes eventos. Então, cumpre esse objetivo - de colocar essas comunidades em contato; a gente tem comunidades de todas as zonas da cidade oeste, central, norte e sul, dá uma visão geral de como isso está causando impacto à cidade inteira e, além disso, chama a atenção para a preparação dos grandes eventos”.
Participam do torneio dez equipes masculinas e quatro femininas. Entre as comunidades representadas estão a da Providência, de Santa Marta, do Salgueiro, de Indiana, Muzema, da Vila Autódromo e Vila Recreio 2. No torneio feminino, venceu a equipe da Providência. Uma das jogadoras, Alaine Carla Souza Mendes, de 18 anos, diz que, além de ser ótima oportunidade para jogar, é importante para apoiar a causa. “Foi uma oportunidade que muitas pessoas gostariam de ter. Minha família passou pela remoção já faz um tempo, agora recebe auxílio-aluguel. Mas, agora, o pessoal mais de cima [do morro] está passando por esse problema”.
O evento conta também com exposição de fotografia, vídeo, grafite e uma festa junina, além do lançamento do saci como Mascote Popular da Copa. Autor do desenho, o fotógrafo André Mantelli explica que não é contra a ideia do tatu-bola como mascote, mas sim contra a forma como é feita a escolha.
“O comitê procurava uma coisa que confrontasse essa ideia do traço bonitinho, que normalmente esses grandes eventos colocam como mascote. Eu acho que a ideia do tatu-bola até que é bacana, mas tem todo esse processo de business, antidemocrático, esse nome que não nos representa, É tudo muito esquisito. E logo nós que temos uma cultura, um folclore, uma mitologia interessantíssima ligada às matas, ligada ao nosso cotidiano, à nossa riqueza étnica”.
Para ele, o saci representa o nosso futebol moleque, a alegria e espontaneidade do brasileiro. “O nosso saci é um saci solto, que ninguém vai prender, ninguém vai tirar a carapuça. A gente coloca mesmo a carapuça e vai para a rua. A ideia é que o trabalhador informal que quiser comercializar isso em camisa tenha liberdade total. Nosso desejo é que isso seja replicado livremente e até que outros sacis apareçam. O mais importante é que ganhe visibilidade como ideia, não o desenho em si”.
Renato Cosentino lembra que o comitê já teve contato com o Poder Público, mas sem conseguir avançar na discussão das remoções. “A gente teve um grave aumento das situações, teve no carnaval uma remoção compulsória no Largo do Tanque, em Jacarepaguá, com indenizações de R$ 7 mil, R$ 10 mil, como a comunidade relatou. Há moradores da Restinga que foram removidos em 2010 e ainda não receberam nenhum tipo de reparação”.
Há um mês, o comitê lançou um dossiê denunciando que cerca de 10 mil famílias podem ser afetadas pelas remoções no Rio de Janeiro.
Edição: Graça Adjuto
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